Monday, May 21, 2012

O mundo perdeu as chaves de casa!


De cada vez que olho o mundo acho que ele está de cabeça para o ar. De tal modo que em muitos casos há quem o imagine de calças, na esperança de que ele deixe cair moedas do bolso. Alguma coisa estranha se passa, porque, a acreditar no que se ouve, as pessoas estão trocadas nos seus lugares e parece – acreditando no que dizem – que se deveria inverter o sentido, como naqueles ranchos folclóricos em que alguém de mãos ao peito diz em tom firme e alto “virou”. E toda a gente vira.

O mundo precisa deste grito para perceber como corre a dança em sentido inverso. Mas não existe esta voz, esta mão no peito, na verdade duas, com correcção, duas mãos naquela jaqueta, em tom fidalgo, anunciando o começo de uma inversão de sentido.

O mundo está virado, sim, mas como uma casa onde a empregada doméstica não vem há mais de duas semanas. Há roupa no chão, há papéis em todo o lado, há números que se apontam julgando que mais tarde saberemos de quem são, mas que com verdade nunca o saberemos. E é este o problema. Ao contrário de todos aqueles que movem de forma lúcida em toda esta desorganização, o mundo não se encontra e não sabe onde está a chave de casa. É esta a verdade: o mundo desencontrou-se e nós somos essa chave que não se encontra.

 Daí que muitos sejam aqueles que dizem que fariam melhor que os que estão lá, que com eles tudo teria sentido, que com eles é que era bom, que eles é que sabem, que eles é que fariam bem, que só os bandidos e demais chegam ao poder e que se esse dia chegasse – a hora em que alguém diria “virou” em tom imponente e alto, sempre alto – todo o mundo dançaria em tom harmonioso.

Daria tudo – até os meus dois rins – para dar uma oportunidade a estas pessoas, na esperança de que de facto o fizessem. Mas temo bem que nada se alterasse, pois o lado dos mundos vicia e inquina quem o habita e tenta transformar. E será sempre assim, até um dia, em que um homem ou mulher de jaqueta distinta e impecavelmente passada diga “virou” e todos finalmente se encontrem, chocando de frente.

Fernando Alvim
Publicado originalmente no jornal i

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