Sunday, April 22, 2012

PASSATEMPO «Como esquecer alguém?»

Houve muitas participações. Fiquem aqui só com uma pequena (uma pequena, mesmo) amostra delas. Entretanto diremos quem ganhou.


ANA JANEIRO


Dizer como esquecer alguém é fácil, difícil é esquecer. Ter esquecido. Ser esquecido. Não o ser.
Mas não há espaço para lamúrias neste singelo manifesto. A questão que se levanta é como esquecer alguém.
Já me esqueci de várias pessoas. Do seu amor. Do meu. Daquilo que era nosso e daquilo por que ansiávamos.
Estou convencida de que o primeiro passo para esquecer alguém é não a desejar esquecer. Porque desejar esquecer implica lembrar, é embaraçoso e cheira a impotência, de tão ineficaz.
O melhor, certo é, será aceitar. Aceitar a lembrança do que não se esquece. E dançar.
E o resto não vem com o tempo. Não pode vir. Porque o tempo nunca trouxe ninguém.

MARTA PINTO

Já dei voltas na cama a remoer estas picadelas no peito. Já me levantei, em bicos de pés, deixei o meu infortúnio a dormir e saí. Já conheci outro, mais bonito do que tu. Mas o cheiro a ti entranha como as nódoas mais encardidas. Cheiras a bolo a sair do forno! O teu quentinho é igualzinho ao que sai do fogão a lenha da minha avó. Como raio esquecer-te?! Não encontro remédio dentro da lei, nem fármaco sem a composição droga “pesada” (daquela que vem em saco de quilo), e efeito secundário deitar abaixo o quadro eléctrico do cérebro, até que alguém volte a pôr o interruptor para cima. Cure-me o Alzheimer.

CAROLINA SILVA

Sei tanto de esquecer alguém como sei a chave do Euromilhões.
“Raispartam” os amores e a minha excelente memória. Já tentei trabalhar para esquecer, beber para esquecer, correr para esquecer, comer para esquecer… Quase me esqueci de um ou outro, mas há os que pedem amizade no facebook ou quem mande sms a avisar que vai passar férias perto e podíamos beber um copo. Pfff, os parvos!
Neste ponto sou inútil. Não sei esquecer pessoas. Talvez peça ajuda à Maia, ao Luís de Matos ou ao Harry Potter. Entre bruxos, mágicos e adivinhos alguém há-de ter uma poção para apagar pessoas da memória!

JESSICA DUARTE

A melhor forma é a que já se usa desde dos tempos das monarquias, e designa-se por “Rei morto, Rei posto”. Portanto o grande objectivo é voltar inundar os pensamentos, anestesiar os sentidos e encher a barriga de borboletas, mas, por outra pessoa. A questão aqui não é deixar de amar, porque não há um botão para desligar o amor, mas sim apontar para outra direcção (O amor se fosse visível seria um raio dourado que saísse ao nível do nosso peito) A técnica de apontar esta arma a uma nova vitima que irá levar com este nosso amor implacável só é eficaz se for correspondido. Há outros que canalizam o amor para a religião, para os filhos, para o trabalho, adoptam animais e ou dedicam-se a uma causa. Quando tudo e todos falharam, aí enchemo-nos de nós, e amaremo-nos a nós próprios, não faz mal, pois desde que se dê amor, amor em troca voltará para nós!

EUNICE GASPAR 


Um amigo perguntou-me como se pode fazer restart ao coração. Não lhe soube responder. Acho que não se pode, não há uma forma, um botão. Deixa-se lá tudo o que vivemos, dores incluídas, e espera-se que as coisas se transformem, as memórias se percam e o azedo na boca mude de sabor para qualquer outro paladar mais agradável. Vivem-se as dores e cresce-se com elas. Aprendem-se lições e espera-se que o organismo cuspa o sabor tóxico que nos ficou preso à garganta. Atenuam-se as mágoas com calmantes (amigos) e espera-se que o tempo faça o efeito que queremos: que provoque o esquecimento.
Deixam-se as lágrimas cair para nos lavar a alma, e elas vão cair várias vezes, e olha-se para o céu para se evitar o escuro da espiral que parece ser o sítio onde queremos estar. Rasgam-se cartas, postais e fotografias. Muda-se de rotina, de cenário, de sítios. E o coração lá por dentro, enquanto as coisas por fora vão mudando, vai sofrendo mudanças também. Até que um dia, depois de termos chorado 476 dias, ou outro número qualquer e nos termos massacrado com o fracasso que se agarra à nossa mente, acordamos e damos um sorriso. Um que seja provocado pelo sol, pela chuva ou por outra coisa, isso agora não interessa nada. Um que seja retribuído a um estranho, a um amigo, a uma criança. E um dia, quando menos esperarmos, se tivermos sorte e a audácia de o aceitar, um sorriso que seja provocado por uma nova pessoa que nos entre vida adentro.

PAULO ALMEIDA


Pára de olhar para mim.
Imploro-te! Peço-te por tudo e com todas as minhas forças. E ao mesmo tempo suplico-te que o continues a fazer. Só mais um pouco. Só mais uma vez. O teu olhar tem o poder de me desarmar completamente. E eu não sei lidar muito bem com isso. Não sei se hei-de ficar contente com esse teu poder encantado, esse teu poder de super-herói, capaz de encher a minha alma de magia, ou se hei-de ficar inquietado com a possibilidade de tu seres uma vilã, de teres descoberto o meu ponto fraco, e de agora ires usar essa tua capacidade para me matares lentamente porque te alimentas da minha dor. Sinceramente não sei muito bem o que pensar. A primeira vez que o teu olhar me encontrou foi há 3 meses atrás. Eu estava no café com os meus amigos a falar sobre o nada e quando olhei para o outro lado da sala, ali estavas tu. No teu mundo, com as tuas amigas, a falar sobre o teu nada. E de repente olhaste para mim. Eu acho que não o fizeste de propósito. Foram apenas 2 segundos, mas foi o tempo suficiente para me aprisionares para sempre. Os meus amigos continuaram a falar comigo, pelo menos acho que continuaram a falar comigo, mas eu já não consegui ouvir mais nada. Os meus sentidos estavam todos centrados em ti. E no teu olhar. Naquela noite não voltaste a fazê-lo, mas eu prometi que iria voltar aquele café todos os dias para poder voltar a sentir o efeito do teu olhar em mim. Tinha ficado viciado. Tinha ficado agarrado. E como acontece com qualquer vício, eu precisava de o satisfazer com mais uma dose. Só mais uma. Só mais uma e ficaria tudo bem. Mais um olhar e eu nunca mais precisaria de voltar a ver-te. Que ingénuo. Voltei todos os dias aquele café à mesma hora e sentei-me exactamente no mesmo sitio. E nada. Passaram 3 meses desde aquela noite mas continuas a olhar para mim de todas as vezes que eu fecho os olhos e te imagino sentada naquela mesa do outro lado do café com as tuas amigas a falar do nada. A falar de mim. Imagino-te a contares-lhes que um rapaz do lado oposto de onde estás sentada te enclausurou com o seu olhar e que agora não consegues pensar noutra coisa a não ser nas perguntas sem resposta que ele te deixou naquela noite: Como se chama? Onde vive? O que é que faz? Qual é a sua música favorita? O seu filme preferido? Qual será o seu maior sonho? O que será que o faz chorar? Como será o seu abraço? O seu ombro? O seu colo? Imagino-te em casa, deitada na tua cama fria sem conseguires adormecer e a pensares que se hoje tivesses ficado mais 5 minutos no café talvez eu tivesse aparecido e pudesses ter cruzado o teu olhar com o meu outra vez. E depois apercebo-me que todas as coisas que acabei de descrever não passam de fragmentos da minha imaginação. Sonhos impossíveis que vivi nos últimos 3 meses.
Todos os dias continuo a regressar aquele café na ânsia de voltar a sentir o teu olhar. Porque preciso de o ter em mim mais uma vez. Só mais uma. Preciso de acalmar a minha sede. O meu vicio. Todos os dias volto a ter de fechar os olhos para poder ver-te. E não sei quanto mais tempo vou aguentar assim. Preciso que me libertes. Suplico-te. Por favor! Pára de olhar para mim!

ANDREIA DIAS

Quando estamos apaixonados por alguém, não há maior clareza nem maior verdade de que aquela é a pessoa que mais queremos ao nosso lado, é a que nos completa e a quem reservamos, a maior parte do nosso tempo, o pensamento.  É o dogmatismo na crença amorosa e "Ai" do herege que nos diga o contrario! E se o sentimento for recíproco entramos, então, no auge e no delírio levado ao expoente da loucura. Tudo corre bem, a cor dominante da nossa vida passa a ser o cor-de-rosa, sem complexos, e até qualquer insecto estúpido esvoaçante como uma borboleta que levita nas partículas do ar se torna uma dádiva de Deus. O amor é assim, um sentimento individual (mas transmissível), que está à disposição de todos, de igual forma, mas sentido de diferentes maneiras na individualidade e solidão de cada um. É a arte apresentada ao colectivo mas interpretada na experiência individual. A vontade de refutar esta verdade aparece quando essa pessoa pelo qual estamos apaixonados e depositámos todo o valor divino deixa de corresponder às nossas expectativas seja porque motivo for. Quando a crise amorosa se instala, o nosso ego, inteligente e eficaz como sempre foi, inicia um processo de defesa e abre fogo contra a imagem desta pessoa, tornando-a, agora, no alvo a abater. Surge, assim, a necessidade do esquecimento, que nos caia um contentor em cima e nos afecte a específica parte do cérebro onde carinhosamente alojámos tão constrangedora informação. É um dos processos de defesa mais normais das ligações inter pessoais, mas será assim tão eficaz? Não perdemos nós demasiado tempo a estabelecer um mecanismo de esquecimento de alguém? Desenvolver uma estratégia fundamentada de esquecimento não nos fará lembrar já o suficiente?  Na realidade não devemos esquecer quem já amámos, há tanto para aprender, e as boas recordações? Devemos sim atribuir-lhes maior ou menor percentagem de valor, porque as pessoas são o que são e o valor que têm é atribuído por nós próprios. Na verdade, o termo desilusão associado ao desejo de esquecer alguém, vem nada mais nada menos, das grandes expectativas que atribuímos à pessoa amada e, claro, que culpa tem ela disso? A responsabilidade é toda nossa, tomámos a liberdade de que assim fosse e agora há que suavizar as consequências. No final, devemos absorver o lado positivo da experiência vivida e da sua natureza conscientes que até do lixo nascem flores!

1 comment:

  1. Sento-me junto ao mar. O mar está vazio de gente, imenso. Lembra-me as cartas que nunca te escrevi.
    A vida está cheia de cartas que não se escrevem. Demasiadas, não achas?
    Decido embarcar, em busca não sei bem do quê nem sei bem porquê. Decido romper o mar, gritar, fazer-me ouvir na imensidão do silêncio que já há muito tempo impera dentro de mim. Não olho para trás. Vou depressa com medo que me apanhe o arrependimento. Decido olhar. Hesito. Penso que é melhor não, que já olhei demasiadas vezes. Dou por mim a olhar.
    Vejo pouco agora. A prata do sol a romper o mar incendeia-me os olhos e tudo o que vejo é terra desfocada, são sombras de onde estive e contornos esfumados do que fiz. Embarco então. Sou dona do barco, sou a única tripulante. Dirijo-me e deixo-me embalar. Oscilo de proa a ré de acordo com a maresia dos sentimentos. Enjoo e adormeço de acordo com o sal da vida.
    Penso em escrever-te novamente, mas não tenho como te enviar nada. Quando o podia fazer secou-me a tinta da caneta e agora de nada servem todas as canetas do mundo!
    Perdi-me. Já não sei que voltas dei nem quais hei-de dar. Procuro a bússola no bolso e reparo que não a trouxe. Deixei-a em terra, como te deixei a ti. A pressa de mudar tem destas coisas!
    Preciso da minha bússola! Está guardada naquela gaveta, lembras-te? Naquela onde guardámos todas as nossas recordações do que não tivemos, todos os esquissos de momentos que vivemos em que o pecado era o guião. Está tudo remexido, várias vezes em busca de respostas, mas está tudo lá! Sempre esteve, desde o primeiro minuto em que os nossos olhos nos traíram e se abraçaram antes que as nossas mãos se pudessem alcançar.
    Arrepio-me! O vento de final de tarde e a possibilidade de que possas ter esvaziado a gaveta arrepiam-me. A nossa gaveta...vazia...arrepia-me!
    Vir para o mar com gavetas cheias em terra é desconcertante. Um navegador deve vir despojado de valores, entregue ao mar e aos seus desafios!
    Que tonta que sou.
    Mas preciso de uma bússola. É urgente!
    Será que me trazes? Se eu te disser que está na nossa gaveta, consegues encontrá-la? Ainda te lembras?
    Mostra-me o norte, mesmo que vás para sul. Traz-me a bússola mesmo que queiras que eu me perca. Lê a minha carta, mesmo que não ta mande. Uma última. E responde. Traz-me a bússola e responde-me.
    Deixa-me no mar, que eu sei navegar. Mas não me deixes sem bússola, que para me orientar preciso de saber onde estou, e por quem estou. Lembras-te?
    E se preferes esquecer diz-mo e não mo escondas no manto das dúvidas que nunca hei-de partilhar contigo.

    ReplyDelete