Monday, March 19, 2012

A Cego, Surdo e Mudo no JN

A editora humorística que quer ser levada a sério  
Cego, Surdo e Mudo é o novo projeto editorial de Fernando Alvim - Dez livros por ano é o objetivo  
Artigo de Sérgio Almeida, JN, 18-03-2012


Primeira (e única) editora virada para o humor, a Cego, Surdo e Mudo quer provar que a o riso e a literatura pátria não têm que estar de costas voltadas. Quem o diz é Fernando Alvim, mentor do projeto.  

Com uma predileção muito especial por perder dinheiro, como assegura quem o conhece, Fernando Alvim resolveu conjugar no seu novo projeto duas das suas maiores paixões - o humor e os livros -, arriscandose a cumprir, mais uma vez, a profecia dos amigos. "Estou no bom caminho para isso acontecer de novo", graceja o comunicador.  

Os indicadores iniciais parecem, todavia, negar essa evidência, já que as reações do público às cinco primeiras propostas editoriais foram positivas.  

A aparente inconsciência que representa aventurar-se num projeto de risco em período de crise é desvalorizada pelo conhecido radialista: "Quisemos abrir a editora em 1930 mas resolvemos esperar por agora".  

Dos livros publicados até à data, três pertencem ao próprio editor e dois a amigos de longa data. Coincidência? Não propriamente. "É importante ter afinidade com os autores, para qué a relação não seja só profissional", diz. Agrupar os vários domínios criativos, seja literatura ou música, numa mesma marca foi o propósito de Alvim, que apesar de reconhecer que "o humor é o nosso 'core-business'" não fecha a porta a outras áreas. "Queremos, antes de mais, valorizar a criatividade", assume, apostado em converter-se "numa espécie de Balsemão dos pequeninos".  

Focado no objetivo de lançar de lançar uma média de 10 livros por ano, o recém-investido editor já tem vários títulos assegurados, com destaque para a coleção "Manual de instruções". "Como sobreviver à crise", de João Pedro, "Como fracassar completamente na vida", de João Bonifácio, e "Como ser um bom ex", de Ana Markl, são alguns dos próximos títulos a publicar, além de uma nova obra de João Quadros.  

Lançado no último trimestre do ano passado, "É como diz o outro", de Frederico Pombares e Henrique Dias, representa a transposição para livro da peça teatral levada à cena recentemente, com Miguel Guilherme e Bruno Nogueira nos papéis principais. "É um livro com humor muito estranho e nosso, muito pessoal", adianta Henrique Dias, argumentista que, habituado a escrever para outros criadores, começou por estranhar a nova função de assinar em nome próprio. "Quando escrevemos para outros, há sempre algum condicionamento, quanto mais não seja para adaptarmos o nosso estilo ao do humorista. Neste caso, não. Foi liberdade total".  

Companheiro de escrita, Frederico Pombares reconhece que o anonimato do guionismo pode ser ingrato mas apenas para os que buscam glória a todo o custo. "Quem escreve para outros não quer ser conhecido, mas sim reconhecido", adianta o coautor do projeto que começou por integrar uma rubrica no programa "Cinco para a meia noite".  

"LIVRO COM UMA FORTE COMPONENTE PARVA"  

"Escrever um livro sobre sexo foi a única maneira de justificar à minha mulher ter pornografia no computador", reconhece António Raminhos, autor de "O amor não tem hora marcada... exceto nos classificados", uma das mais recentes apostas da Cego, Surdo e Mudo. Em duas dezenas de crónicas, o humorista que trocou os jornais pela comédia "do jornalismo para o humor é um saltinho", diz - rala de questões prementes como a depilação genital feminina, o toque retal ou a masturbação excessiva, além da que considera ser a maior de todas: "O sexo com meias dá potência?"  

"É um livro com uma forte componente parva, à semelhança do meu ser, aliás. Não sou psicólogo nem faço tenção de o ser", reconhece Raminhos, embora não se iniba, instantes depois, de se aventurar na matéria, ao defender que na intimidade somos todos iguais. "No sexo diz-se uma coisa em público e faz-se outra em privado", reforça.  

Com quatro prefácios, como que para dar razão à máxima de que no sexo tudo tem que ser à grande, o livro envolveu aturada investigação que, segundo o autor, esteve longe de ser maçadora...  

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