Tuesday, January 24, 2012

O meu prefácio ao livro "Comunicar 2.0 - A Arte de Bem Comunicar do Século XXI" de Filipe Carrera

O lançamento será hoje, às 18:30, na Fnac do Colombo - no qual eu participarei virtualmente através de um vídeo.


Existem vários tipos de inteligências, e uma delas é a inteligência social, que só por si é uma boa ideia. E não tenho dúvidas que, quem a criou, era alguém munido de uma outra inteligência que eventualmente desconhecemos. No meu caso, que vivo desde 1632 mantendo este corpo jovial que é uma referência para qualquer rapariga com classe, confesso que me habituei a perceber que só existiam dois tipos de pessoas: as inteligentes e as não inteligentes. E, quando se fazia um debate sobre isto, os oradores sentavam-se na mesa, falava-se cinco minutos sobre a coisa, bebia-se a água dos copos que estão sempre presentes nestas ocasiões e depois de fortissimamente aplaudidos por toda uma sala, cada um ia à sua vida e pronto. Estava feito.

Agora não. Um debate sobre a quantidade de inteligências que existem na sociedade actual, pode vir a demorar mais do que a guerra dos cem anos, ou um qualquer parecer jurídico em Portugal. Aliás, da última vez que participei numa coisa destas, o moderador estava de tal forma empolgado em mostrar conhecimento que, ainda hoje, continua no mesmo local, a fazer perguntas e a responde-las, convencido que está perante o neurologista António Damásio e um filho primogénito de Einstein, que julga ter herdado de seu pai um QI superior a este.

Mas enfim. O mundo está cheio de inteligências várias, e em Portugal o termo inteligente começou a ouvir-se com aquilo que ainda hoje mais associamos a ele: Obviamente os esquentadores inteligentes. E se me permitem particularizar, aqui destaco o primeiro de todos, o esquentador Vulcano inteligente que em muitos lares por esse Portugal fora chegava a ser a única forma de inteligência existente. De tal modo, que os filhos dessas famílias quando  chegavam a casa vindos da escola com dúvidas sobre matemática ou meio físico e social, os seus progenitores ao não saberem como os poderiam auxiliar, invariavelmente respondiam: olha meu filho, vai perguntar ao esquentador. E os garotos iam, vos juro.

Mas os tempos mudaram e a nossa forma de comunicar também. Este livro fala disso e por isso é tão inteligente, porque nos apresenta uma enormidade de capítulos e alíneas e análises e diferentes formas de comunicar devidamente esquematizadas e conselhos práticos e  organização de tópicos e erros mais comuns – alguém ainda aí está? Ainda estão a ler isto? –   o livro fala de como comunicarmos para o sucesso, o  que é isso da comunicação presencial, o poder da palavra, o poder do silêncio, como fazer um relatório de projecto, como fazer  uma tradução, como fazer bacalhau à Brás que é tão bom e , permitam-me destacar, ensina-nos de forma exigente como usar um retroprojector.

Este livro é pois muito completo e me parece um documento necessário e até obrigatório para quem faz da comunicação a sua principal actividade ou mesmo para quem não faz mas gostava muito. Este livro fala, escreve, e se fosse um miúdo vos garanto que pinchava furiosamente com os pés no chão, como quando fazíamos quando eramos mais petizes, segundos antes de levarmos um merecido par de galhetas por parte do nosso progenitor.

Mas há uma coisa que este livro não diz, mas para isso serve este prefácio que assim faz desta obra algo muito mais completo. O que não diz é isto: A grande maioria dos comunicadores – os maiores entenda-se – comunicam não só por essa ser uma necessidade básica, mas sobretudo, para seduzir o seu receptor. E no meu caso, se esse receptor tiver uma saia curtinha, vos garanto que minha comunicação melhora muitíssimo. E não sou só eu que o digo – não, não sou - já muitos escritores o confessaram. E a verdade é esta: a  grande maioria deles escreve para seduzir mulheres e receber delas o amor e o afecto que a caligrafia não lhes empresta. Uma máquina de escrever não pode fazer amor com o seu autor – antes pudesse -  as letras não lhe fazem qualquer carícia – que bom seria -  e por isso - vou até repetir esta parte – e por isso, é servindo-se delas que o comunicador quer chegar ao sofá lá de casa.  É usando-as de forma hábil – como se estas fossem reféns de um qualquer movimento armado – que o comunicador pega nas palavras, pega nas letras, pega nas entoações várias e  atira-as fortíssimamente ao seu receptor como se fosse um cocktail molotov na faixa de gaza, uma bala certeira, uma explosão de dinamite num armazém suspeito no irão.

Este livro fala de comunicar e não tenho dúvidas que os melhores comunicadores são justamente aqueles que gostam mais de ouvir do que falar, que gostam mais de ler do que escrever, que gostam mais de ver a sua mulher a fazer amor com o vizinho de cima, do que ele próprio a fazer amor com a sua própria mulher. Bem, se calhar, não tanto. Este livro é sobre comunicação e um bom comunicador deve saber parar na altura certa. E talvez para dar sentido à última afirmação, que ajeitando os colarinhos, me fico por aqui.

Fernando Alvim

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