Saturday, March 27, 2010

O amor nunca abrirá o Telejornal



As pessoas dizem que o amor é muito diferente do ódio e eu com franqueza, não concordo nada. Acho que são gémeos falsos, é mais isso, nasceram no mesmo dia, são filhos da mesma mãe, e por uma sorte que nunca saberemos explicar, não foram igualzinhos e usaram a mesma roupa. Foi sorte. O que tiveram foi vidas diferentes. O amor é claramente a rapariga que encontra o homem dos seus sonhos, um ricaço que lhe faz filhos lindos, com sorrisos incríveis e largos, que cheiram a classe, a sabão, que frequentam colégios caros e cujo pai, o tal ricaço, tem obviamente uma amante com a qual passa fins-de-semana de negócios inadiáveis. O ódio nem tempo para isso tem. E digo isto com profunda tristeza, porque estou convencido que o ódio podia ter sido um gajo porreiro e o amor uma besta inqualificável. Mas não foi. E assim, o ódio é a besta e o amor o filho querido.


Mas nem tudo são desvantagens no ódio. O ódio pode ser um amor e tem coisas maravilhosas. Uma delas, é nunca esquecer. E disso não tenham dúvidas, o ódio se for bom, bem alimentado portanto, nunca se esquece. Já o amor, mesmo que seja bom, nada nos garante. Há amores muito lindos que se pensava serem para uma vida e vai-se a ver, não duram mais de dois meses. Enquanto isso, não conheço um único caso de ódio que tinha tido uma relação pouca duradoura, o que prova que mais depressa o ódio é para toda a vida do que o amor. E porquê? Porque no ódio, as coisas são feitas com uma outra decência, com uma respeitável seriedade que quase já não existe no Amor. O ódio é um homem sério, de firmes convicções, o amor é um cheque em branco, que com a crise que se vê, quase sempre não tem cobertura.


Daí que o ódio seja mais falado e tenha mais noticias na televisão. Nenhum telejornal que se queira sério, liga muito ao amor. O amor é para as revistas cor-de-rosa, para gente que aprecia futilidades ou para ser usado como fait divers no final do serviço noticioso.E a verdade é esta, no mundo em que vivemos, só o ódio pode abrir um telejornal e quanto muito, só como manobra de diversão, o amor fechá-lo.

15 comments:

  1. Muito bom! xD

    Abraço,
    Tiago Martins
    _____________
    http://brilhantementeinsano.blogspot.com/

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  2. Parabens es um grande cronista, humorista, apresentador e dj (+ ou menos).. aprecio muito o teu trabalho continua.. estarei atenta! ;)

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  3. DESCULPAI MAS nÃO CORRESPONDE À VERDADE, O AMOR ABRE MUITAS VEZES AS NOTÍCIS, ANDAM DESATENTOS?

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  4. Ainda assim, tenho pena que assim seja...

    busycat

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  5. Ainda assim, tenho pena que assim seja...

    busycat

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  6. Não sou tua fã, não vejo os teus programas, não sou seguidora habitual do blog.

    Mas, este post, do qual tive conhecimento através de um blog, é simplesmente perfeito. Brilhantes palavras de algo que eu gostaria de ter escrito. Inveja! Shame on me!

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  7. Não sabia que o Alvim era um poeta :)

    Tens razão e ao mesmo tempo não.
    Existem dois tipos de amor, aquele que nos rouba o coração sem pedir autorização e aquele que damos e cresce com a nossa vontade. O primeiro amor não sobrevive muito no nosso mundo e precisa do segundo para continuar o seu trabalho.

    O ódio também nasce e morre como o amor, mas é bem mais fácil de manter vivo e também dá um outro prazer pela vingança imaginada. O ódio providência um objectivo para algo melhor, o amor não. O amor era o objectivo e depois dele... o ser humano fica perplexo sobre que fazer a seguir.

    Como sempre, gostamos de monta-russas e o amor é um planalto. Estamos no ponto mais alto, mas também se torna aborrecido... por isso fogo nele e venha mais uma descida e curva e contra-curva, para lá cima chegar de novo. O que a gente gosta é de andar aos abanões, não de estar lá em cima ou lá em baixo parado.

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  8. É bem pensado:)
    E às vezes quase se pode odiar quem se ama. Já raramente se pode quase amar quem se odeia...

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  9. Este tenho que comentar.
    Muito, mas muito pertinente.
    Continuação de um bom trabalho e blog

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  10. ... falas de ódio!
    ... mas não falas de amor, quando falas em amor!

    ... falas em interesses, paixão, falas do modo como a palavra amor é vulgarizada ou no que escondem com a palavra amor...

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  11. ines silva gosta disto (vicio do facebook)

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  12. Simples e directo como sempre... :)))
    Gosto mesmo muito de ler os teus textos!!
    :*

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  13. Adorei.
    Fazer do complexo simples, e desse simples profundo, parece-me muito complicado. Mas não parece sê-lo para ti.

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  14. Correcção: amor não é paixão.
    Nem existe só o amor conjugal.
    Lembremo-nos do amor maternal, e às vezes até familiar, tão nutridor e construtivo que nos acompanha até ao último sopro e é tão determinante nas nossas vidas tantas vezes!

    O amor constrói.
    O ódio consome.

    Escolham as linhas com que se querem coser, pois cada 1 só colhe o que semeia (ou para aí tendem as probabilidades).

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