O que deve levar para um piquenique:
Deve levar tudo o que se lembre e essa ideia de que só se deve levar o absolutamente indispensável é absolutamente desajustada. Sendo assim, eis as coisas a levar para viver a sério um piquenique:
1 – A televisão. Nada melhor do que em plena natureza, desfrutar de um belíssimo filme com Richard Dean Anderson ou David Hasselhoff. São sempre muito apetecíveis. E é bom ver estas aventuras ao som do relinchar dos grilos. E não me venham agora dizer que os grilos não relincham.
2 – O Blackberry. Para estar atento ao índice Nasdaq. Conheço muito boa gente que se mete em piqueniques destes armado aos cucos e depois perde oportunidades incríveis de negócio por não estar devidamente actualizado. E depois queixam-se que é a crise.
3 – A bandeira de Portugal. As pessoas parece-me que agora só usam as bandeiras nas varandas ou quando a selecção joga. E não devia ser assim. A bandeira de Portugal devia ser usada para marcar território como fez - e muito bem - o Neil Armstrong quando chegou à lua. Deve pois chegar-se ao local escolhido para o piquenique e erguer a bandeira do nosso país para toda a gente perceber onde está. E antes de atacar o presunto, sugiro que se cante o hino.
4 – Panados. Os panados são essenciais a qualquer piquenique. Aliás, acho que a sua comercialização só devia ser feita para este fim. Exactamente como acontece por exemplo com as farturas, que só são vendidas em roulottes de entusiásticas celebrações populares. Ninguém no seu perfeito juízo vai a uma pastelaria e pede uma fartura, do mesmo modo que ninguém faz panados para comer ao jantar. Panados é para um piquenique.
5 – Esparguete. O esparguete é possivelmente o nutriente mais útil para este tipo de actividade lúdica. E porquê? Porque não só dá para uma rápida e muito práctica refeição, como serve igualmente para jogar Mikado, que é um jogo muitíssimo bonito. Atenção que podem jogar mikado e depois comer o esparguete, mas o contrário é manifestamente impossível.
6 – Berma da Estrada. O melhor sitio onde se deve fazer um piquenique é a berma da estrada de uma boa estrada nacional. É certo que as bermas da estrada e também as esquinas de rua gozam de má fama, mas está na altura de alguém lhes devolver a dignidade que outrora tiveram. Estar num piquenique e ir cumprimentando os carros que passam, é dos exercícios cívicos mais salutares que poderão experimentar. É nestas ocasiões que se pode encontrar o primo que há tanto não se via ou o vizinho da frente que julgávamos ter falecido. A desvantagem é que atendendo à velocidade com que passam é impossível manter qualquer tipo de diálogo. E é uma pena.
7 – A mesa da sala de jantar. É isto que estão a ler e a verdade tem que ser dita. As mesas dos piqueniques são demasiado frágeis e basta vir uma rabanada de vento e caiem os panados ao chão. Não é que não saibam bem, também bem assim, mas a terra às vezes pode não estar bem tratada e acabamos a comer pesticidas variados e seguramente nocivos.
8 – O sofá lá de casa. Não me venham com essas cadeirinhas que se compram à beira da praia, que eu não compro. Nestas coisas, quando fazemos um piquenique, devemos sentirmo-nos em casa. E nada melhor, do que levar uma parte dela connosco. O sofá é essencial e se for um de 6 lugares tanto melhor. Nada melhor do que ter uma família numerosa, sentado num sofá, vendo televisão de pés estendidos na relva e com a selva amazónica a abraçá-los de fundo.
9 – Um chapéu de uma conhecida marca de tintas. Perdeu-se o hábito de se usar chapéu em Portugal, será possivelmente uma tendência universal – maldita globalização – mas a verdade é que nestas ocasiões as mulheres devem usar um daqueles chapéus de palha que estão sempre a voar com o vento. E o homem deve fazer uso de um bom chapéu amarelo metido entre as orelhas e com a marca de tintas na pala. Isto faz-me sempre lembrar alguns filmes franceses pouquíssimo ortodoxos.
10 – Rádio para ouvir o relato. É certo que há televisor, mas não contem com tvcabo no meio da floresta porque não vai haver. E o Benfica pode muito bem estar a jogar contra o Alverca e nós a perdermos lances importantes para a nossa edificação enquanto pessoas e seres humanos extraordinários. Os da renascença são muito bons porque têm o Ribeiro Cristóvão. E é delicioso ouvir a harmoniosa junção do som da televisão, do relato e do barulho das crianças, com o som límpido da natureza
O que não se deve levar:
- Comida de casa. Não deve levar em caso algum. Isso é como levar areia para o deserto. Então vai para a natureza onde há tantos elementos naturais comestíveis e não se aproveita isso. Não tem qualquer sentido. Deve levar-se a nossa cana de pesca e pescar um bom robalo para servir com espigas de milho, por exemplo.
- Fósforos. Não não e não. Então as campanhas servem para quê? Nada de fósforos para a floresta porque é perigoso, podemos provocar um incêndio e em sequência disso, podem vir os bombeiros que obviamente se vão alambuzar à comida que temos na mesa. Verdade. Os bombeiros estão sempre a pedir comida nestas ocasiões e por isso não é boa ideia provocar um incêndio.
- O carro. Nem pensar em levá-lo. Embora possa ser penosa a distância entre a cidade e o campo, a verdade é que deverá entender um piquenique como uma peregrinação a Fátima. É cansativo, mas depois é muito compensador. A grande diferença, é que não há milagres.
- Guarda Chuva. Isso é contra natura. Se chover deve assumir-se isso e aproveitar essas lágrimas do céu ( bela expressão esta) para sorvê-las com gosto ou então reunir toda a família e fazer um bonito remake do célebre clássico “Serenata à chuva”. Quem anda à chuva, molha-se. Para quê contrair isto?
- Não leve armas. Vai para um piquenique, não vai para o vietnam e os piqueniques costumam ser muito pacíficos, uma escaramuça de vez em quando por causa dos panados, uma galheta ou outra por causa dos míudos, mas é muito raro haver tiroteio. Aliás, não me lembro que alguma vez tenha havido. Mas quase que aposto que nos Estados Unidos um maluco qualquer já deve ter feito asneira no meio de um piquenique. Mas pode ser que não.
- Não levar pessoas que não gostam de piqueniques. Não se devem levar pessoas que não gostam de piqueniques, mesmo aquelas que dizem que não gostam e não experimentaram. Essas pessoas nunca vão gostar e mais do que não gostar, vão prejudicar as que verdadeiramente gostam de piqueniques. E eu gosto, embora nunca tenha feito nenhum.
- Escrever bem a palavra piquenique. É imperioso dizer bem a palavra piquenique e sobretudo escrevê-la bem. Não é pic à pic, nem picanic, é, e passo a escrever para ficar registado em acta: piquenique. Estamos conversados?
- Não usar camas de rede. De maneira alguma. As razões são muitas. A primeira, é que há sempre muita gente a dar-nos um abanão mais forte do que necessário e já não é a primeira vez que alguém que estava numa cama de rede vai parar ao rio Trancão. Depois, porque são poucas as pessoas que conseguem manter uma estética muito distante de um vulgar chouriço.
- Não levar livros de instruções de nada. Isso tira a graça de tudo. E a natureza é descobrir e por vezes quando não seguimos as instruções descobrimos coisas novas. Ainda outra dia, uma amiga minha foi ao IKEA comprar uma cama e depois de montada, percebeu que tinha acabado de construir uma estante para livros. E que muito jeito lhe dá. Dorme é no chão da sala. Isso é que é mais aborrecido.
- Não ler coisas como esta que está a ler agora. Porque devia estar a fazer coisas mais úteis do que ler disparates uns a seguir aos outros de um tipo que tem a mania que tem graça. E que não se lembra de fazer um piquenique. Mas que – como a foto documenta – tem uma camisa igualzinha a toalha de mesa tradicional de um.
Deve levar tudo o que se lembre e essa ideia de que só se deve levar o absolutamente indispensável é absolutamente desajustada. Sendo assim, eis as coisas a levar para viver a sério um piquenique:
1 – A televisão. Nada melhor do que em plena natureza, desfrutar de um belíssimo filme com Richard Dean Anderson ou David Hasselhoff. São sempre muito apetecíveis. E é bom ver estas aventuras ao som do relinchar dos grilos. E não me venham agora dizer que os grilos não relincham.
2 – O Blackberry. Para estar atento ao índice Nasdaq. Conheço muito boa gente que se mete em piqueniques destes armado aos cucos e depois perde oportunidades incríveis de negócio por não estar devidamente actualizado. E depois queixam-se que é a crise.
3 – A bandeira de Portugal. As pessoas parece-me que agora só usam as bandeiras nas varandas ou quando a selecção joga. E não devia ser assim. A bandeira de Portugal devia ser usada para marcar território como fez - e muito bem - o Neil Armstrong quando chegou à lua. Deve pois chegar-se ao local escolhido para o piquenique e erguer a bandeira do nosso país para toda a gente perceber onde está. E antes de atacar o presunto, sugiro que se cante o hino.
4 – Panados. Os panados são essenciais a qualquer piquenique. Aliás, acho que a sua comercialização só devia ser feita para este fim. Exactamente como acontece por exemplo com as farturas, que só são vendidas em roulottes de entusiásticas celebrações populares. Ninguém no seu perfeito juízo vai a uma pastelaria e pede uma fartura, do mesmo modo que ninguém faz panados para comer ao jantar. Panados é para um piquenique.
5 – Esparguete. O esparguete é possivelmente o nutriente mais útil para este tipo de actividade lúdica. E porquê? Porque não só dá para uma rápida e muito práctica refeição, como serve igualmente para jogar Mikado, que é um jogo muitíssimo bonito. Atenção que podem jogar mikado e depois comer o esparguete, mas o contrário é manifestamente impossível.
6 – Berma da Estrada. O melhor sitio onde se deve fazer um piquenique é a berma da estrada de uma boa estrada nacional. É certo que as bermas da estrada e também as esquinas de rua gozam de má fama, mas está na altura de alguém lhes devolver a dignidade que outrora tiveram. Estar num piquenique e ir cumprimentando os carros que passam, é dos exercícios cívicos mais salutares que poderão experimentar. É nestas ocasiões que se pode encontrar o primo que há tanto não se via ou o vizinho da frente que julgávamos ter falecido. A desvantagem é que atendendo à velocidade com que passam é impossível manter qualquer tipo de diálogo. E é uma pena.
7 – A mesa da sala de jantar. É isto que estão a ler e a verdade tem que ser dita. As mesas dos piqueniques são demasiado frágeis e basta vir uma rabanada de vento e caiem os panados ao chão. Não é que não saibam bem, também bem assim, mas a terra às vezes pode não estar bem tratada e acabamos a comer pesticidas variados e seguramente nocivos.
8 – O sofá lá de casa. Não me venham com essas cadeirinhas que se compram à beira da praia, que eu não compro. Nestas coisas, quando fazemos um piquenique, devemos sentirmo-nos em casa. E nada melhor, do que levar uma parte dela connosco. O sofá é essencial e se for um de 6 lugares tanto melhor. Nada melhor do que ter uma família numerosa, sentado num sofá, vendo televisão de pés estendidos na relva e com a selva amazónica a abraçá-los de fundo.
9 – Um chapéu de uma conhecida marca de tintas. Perdeu-se o hábito de se usar chapéu em Portugal, será possivelmente uma tendência universal – maldita globalização – mas a verdade é que nestas ocasiões as mulheres devem usar um daqueles chapéus de palha que estão sempre a voar com o vento. E o homem deve fazer uso de um bom chapéu amarelo metido entre as orelhas e com a marca de tintas na pala. Isto faz-me sempre lembrar alguns filmes franceses pouquíssimo ortodoxos.
10 – Rádio para ouvir o relato. É certo que há televisor, mas não contem com tvcabo no meio da floresta porque não vai haver. E o Benfica pode muito bem estar a jogar contra o Alverca e nós a perdermos lances importantes para a nossa edificação enquanto pessoas e seres humanos extraordinários. Os da renascença são muito bons porque têm o Ribeiro Cristóvão. E é delicioso ouvir a harmoniosa junção do som da televisão, do relato e do barulho das crianças, com o som límpido da natureza
O que não se deve levar:
- Comida de casa. Não deve levar em caso algum. Isso é como levar areia para o deserto. Então vai para a natureza onde há tantos elementos naturais comestíveis e não se aproveita isso. Não tem qualquer sentido. Deve levar-se a nossa cana de pesca e pescar um bom robalo para servir com espigas de milho, por exemplo.
- Fósforos. Não não e não. Então as campanhas servem para quê? Nada de fósforos para a floresta porque é perigoso, podemos provocar um incêndio e em sequência disso, podem vir os bombeiros que obviamente se vão alambuzar à comida que temos na mesa. Verdade. Os bombeiros estão sempre a pedir comida nestas ocasiões e por isso não é boa ideia provocar um incêndio.
- O carro. Nem pensar em levá-lo. Embora possa ser penosa a distância entre a cidade e o campo, a verdade é que deverá entender um piquenique como uma peregrinação a Fátima. É cansativo, mas depois é muito compensador. A grande diferença, é que não há milagres.
- Guarda Chuva. Isso é contra natura. Se chover deve assumir-se isso e aproveitar essas lágrimas do céu ( bela expressão esta) para sorvê-las com gosto ou então reunir toda a família e fazer um bonito remake do célebre clássico “Serenata à chuva”. Quem anda à chuva, molha-se. Para quê contrair isto?
- Não leve armas. Vai para um piquenique, não vai para o vietnam e os piqueniques costumam ser muito pacíficos, uma escaramuça de vez em quando por causa dos panados, uma galheta ou outra por causa dos míudos, mas é muito raro haver tiroteio. Aliás, não me lembro que alguma vez tenha havido. Mas quase que aposto que nos Estados Unidos um maluco qualquer já deve ter feito asneira no meio de um piquenique. Mas pode ser que não.
- Não levar pessoas que não gostam de piqueniques. Não se devem levar pessoas que não gostam de piqueniques, mesmo aquelas que dizem que não gostam e não experimentaram. Essas pessoas nunca vão gostar e mais do que não gostar, vão prejudicar as que verdadeiramente gostam de piqueniques. E eu gosto, embora nunca tenha feito nenhum.
- Escrever bem a palavra piquenique. É imperioso dizer bem a palavra piquenique e sobretudo escrevê-la bem. Não é pic à pic, nem picanic, é, e passo a escrever para ficar registado em acta: piquenique. Estamos conversados?
- Não usar camas de rede. De maneira alguma. As razões são muitas. A primeira, é que há sempre muita gente a dar-nos um abanão mais forte do que necessário e já não é a primeira vez que alguém que estava numa cama de rede vai parar ao rio Trancão. Depois, porque são poucas as pessoas que conseguem manter uma estética muito distante de um vulgar chouriço.
- Não levar livros de instruções de nada. Isso tira a graça de tudo. E a natureza é descobrir e por vezes quando não seguimos as instruções descobrimos coisas novas. Ainda outra dia, uma amiga minha foi ao IKEA comprar uma cama e depois de montada, percebeu que tinha acabado de construir uma estante para livros. E que muito jeito lhe dá. Dorme é no chão da sala. Isso é que é mais aborrecido.
- Não ler coisas como esta que está a ler agora. Porque devia estar a fazer coisas mais úteis do que ler disparates uns a seguir aos outros de um tipo que tem a mania que tem graça. E que não se lembra de fazer um piquenique. Mas que – como a foto documenta – tem uma camisa igualzinha a toalha de mesa tradicional de um.
Muito bom, mas ainda estou a pensar onde ligavas tu a TV!
ReplyDeleteConcordo com os panados, desde que sejam feitos e fritos no local. Eu levo sempre água e farinha para fazer a massa dos rissóis.
ReplyDeleteAcho que agora me sinto deveras motivada para ir para o meio do monte comer para perto da bicharda que tanto pânico me dá. Só falta arranjar uma camisa como dá foto e já está!
ReplyDeleteBj,
(i)
Na berma da estrada tambem e bom para ler matriculas.
ReplyDeleteExemplo:
33-81-xp: xupa
45-20-fl: florzinha
56-77-sx: sexuologia (para ficar mais elaborado)
55-43-tb tumba tumba
e outras coisas que enfim....
Uma pessoas passa melhor o tempo e realmente é mt giro.hehe
LoL
ReplyDeleteeste post vem mesmo a calhar! é que tenho um piquenique marcado para dia 18... vou ter que tirar a arma e oslivros de instruções da mala! LoL
Alvim.... escreve-se CAEM... E não caiem... ok? aquele beijinho!
ReplyDeleteLaura
Bem!! Sim senhor! E colocaste a minha avozita de 92 anos a rir com este post! Parabens!!
ReplyDeleteEu faço panados para o jantar... mas nunca levei farturas para um pic-à-pic ;o)
ReplyDeleteGostei da ideia da bandeira. Excelente ideia!!!! Acho até que deve ser extensível a outras ocasioes propícias.
ReplyDeleteAliás, e por esse motivo,...deviamos andar sempre com uma bandeira atrás...porque nunca se sabe ...!!!
lol Boas Ideias