Chegou o verão e as pessoas falam mais sobre o amor. Os corpos estão mais descobertos – é certo - mas a alma também usa saia curta. E anda tudo a queixar-se do mesmo, que não há mulheres de jeito, que não há homens de jeito, que só nós é que somos perfeitos. Que pena não nos podermos casar connosco e dizer o nosso nome duas vezes na igreja. Declararem-nos marido e mulher num só e à frente de todos, na altura em que usualmente se diz " Pode beijar a noiva!" , nós com grande destreza física, beijaríamos os nossos braços, as nossas mãos, o nosso peito. Que pena não nos podermos beijar a nós próprios e não conseguirmos também aqui ser independentes. O único consolo, é sabermos que não há contorcionista que o consiga, por mais que se esforce e se dobre. O que nos leva a concluir que um beijo destes – dos que agora falamos - tem que ser a dois. O que obviamente é uma chatice.
Anda tudo a queixar-se do que poderia ter sido, quando em muitas das vezes pode ser ainda. Escreve-se demasiado. Fala-se demasiado e faz-se pouco pelo amor. Os grandes romancistas sabem exactamente do que falo. E não deve ser por acaso, que na sua grande maioria – sobretudo os melhores – foram pessoas que não se safavam nada bem neste domínio. Veja-se por exemplo o Pessoa, as cartas a Ophelia são muito bonitas sim, mas se em vez de escrever tanto a expressar o quanto gostava de estar com ela, estivesse de facto com ela, as coisas teriam sido muito diferentes. Ou então não, já nem sei. O amor pode ser uma coisa muito desgastante, tal como quando partimos para uma longa caminhada, em plena uma da tarde de um verão quente, e percebemos que as sapatilhas vão cedendo ao asfalto que escalda.
O amor é como uma qualquer refeição: se estiver demasiado ao lume, pode queimar-se. Daí que quando se parta para uma coisa destas, se use inicialmente o lume em valores muito próximos do máximo e depois, em quase todas as receitas, se aconselhe a colocar em lume brando. Embora eu não concorde, eu sei que é assim. Daí que muitas das relações se salvem por isto, por na verdade, terem percebido que não podiam estar sempre submetidas a altas temperaturas. E assim, se safam. Ou se adiam. De tal modo que com o tempo, depois do lume brando, há relações que se encontram a alourar, que é – como toda a gente sabe – o que lhe dá o verdadeiro gosto, o sabor que só o tempo sabemos poder dar. Mas há quem não o faça e normalmente esturrique o amor. Precisamente, porque não lhe terá sentido o cheiro a queimado.
E...
ReplyDeleteo segredo afinal não está na massa, está em descobrirmos a tampa da nossa panela...
Nada se esturrica, tudo se transforma.
ah grande alvim!
ReplyDeleteavé!
já ajudei a esturricar uns quantos e parece-me que não fica por aqui. ou então permaneço pessoa a escrever cartas de amor. estúpidas.
abrass camarada!
O Verdadeiro poeta em lume brando...
ReplyDeleteMuito bom! Mesmo muito bom!
ReplyDeleteDizes coisas estupidamente acertadas! Caramba!
ReplyDeleteKiss
Adorei este texto... Alvim Pessoa (aquele que escreve) transformado em Sá Pessoa (aquele que cozinha)... em suma, o segredo está em rectificar o tempero e o lume sempre que necessário...
ReplyDeleteSó mais um comentário,ainda bem que flexibilidade corporal não é o meu forte, ainda dava algum nó à língua... bem, bem, é a dois!
Sem luta, nada se consegue... E o risco, esse é sempre o melhor.
ReplyDeleteA marinar… por melhores dias.
ReplyDeleteA metáfora culinária/amor é excelente, concordo plenamente!
ReplyDeleteEm todas as receitas se podem encontrar "receitas" para o amor, é só ver com olhos de ver.
Pois, Alvim, é capaz de ser isso.
ReplyDeleteCar@lhos te fod@m!
ReplyDeleteNão há dúvida que quando consegues suster a verborreia por um bocado escreves umas coisas verdadeiramente boas de se ler.
:)
Abraço
quando tas com fome, metes tudo no microndas e ta a andar... vontade de comer.... fast-love.
ReplyDeleteHaja mão para a cozinha! :)
ReplyDeleteMuito bom este post! :)
A Teoria da Sopa e BIMBI
ReplyDeleteAdorei este texto,alias, como todos os que escreves relativamente ao Amor...és um romântico! lol
Também sou ao favor do lume alto porque se não for no ínicio nunca será. Se esturricar, esturricou, não nos devemos coontentar com "meias coisas", ou é ou não é, e nesta coisas das relações, da paixão e da Química, não existe o "banho maria", banho maria é uma morte anunciada.´
Está provado cientificamente que o ser humano não poderia estar apaixonado por mais de um ano ou dois (as opinões dividem-se), isto em termos fisiológicos porque não sobreviveríamos a esta tempestade bioquímica, à ausência de apetite, as descargas de adrenalina,e à perda do raciocínio, entre outras coisas giras que acontecem quando estamos apaixonados (acho que até as borboletas no estômago te poderiam matar!!) :) Portanto assim sendo, há que viver tudo no ínicio como deve ser, tudo a que tivermos direito, Carpe diem, nada de desculpas de que se está ocupado com o trabalho ou para se ter calma "que o tempo na acelera!", se isto acontecer, procurem outro caldo, pois tudo que for genuíno vive-se intensamente e sem travões e quem sabe "o pitéu" nunca se vais esturricar, porque entretanto, inventaram a Bimbi com o temporizador e temperatura certa!
Mais uma prova de que o lume deve estar sempre no máximo é a teoria da sopa!
Vejamos, todos sabemos que a Sopa depois de fervida uma vez, tem que ser fervida sempre, senão azeda! Portanto nada de aquecimentos lusco-fusco de 2-3 minutos no microondas, ou é com o "gás" no máximo, ou não é!
Portanto fervam o caldo sempre e estarão livres de uma intoxicação alimentar!
Bom apetite e beijinhos
Fantástica a analogia que aqui encontraste...
ReplyDelete...mas é assim mesmo... às vezes até cheira a queimado mas pensa-se sempre que aguenta mais um bocadinho... é o espirito da resistência!
ja se sabe, que quem anda à chuva, molha-se...
ReplyDeletegostei do texto!
Anda tudo a queixar-se do que poderia ter sido, quando em muitas das vezes pode ser ainda. Escreve-se demasiado. Fala-se demasiado e faz-se pouco pelo amor. Os grandes romancistas sabem exactamente do que falo. E não deve ser por acaso, que na sua grande maioria – sobretudo os melhores – foram pessoas que não se safavam nada bem neste domínio. Veja-se por exemplo o Pessoa, as cartas a Ophelia são muito bonitas sim, mas se em vez de escrever tanto a expressar o quanto gostava de estar com ela, estivesse de facto com ela, as coisas teriam sido muito diferentes. - Sabes, estas a escrever cada vez mais e melhor! Quererá isso dizer alguma coisa?!
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