Thursday, July 24, 2008

Espere lá, eu isso não lhe admito!




De entre todos os insultos que vamos aprendendo percebemos que alguns deles revelam-se funcionais e outros absolutamente ultrapassados. Se querem saber, eu acho que o insulto não deveria ser uma coisa que se fizesse de forma tão gratuita como a que vemos. Um insulto deve ser preparado com parcimónia e dirigido ao peito do adversário. E mais. Não deve ter palavrões. Porque se for um bom insulto – e é isso que se pretende – não será necessário.

O insulto tem que doer na alma, tal qual um cotonete que quase nos fura o tímpano. O insulto faz exactamente isto, esmiúça, esgadanha, como se tivesse à procura de uma terrina cheio de moedas de ouro. Há insultos que já fizeram cair governos e outros que lhes deram maioria absoluta. Há insultos que fizeram história e outros que foram alvo da chacota de todos. Há insultos que ficaram à porta e outros que entraram. E isto faz toda a diferença.

Daí que o insulto não possa ser feito por qualquer um, sob pena de se virar contra si. E quando feito, tem que se escolher aquela palavra, aquela parte do passado onde é suposto ninguém remexer, aquela pessoa que desde sempre lhe provocou urticária. Tem que ser certeiro, tão forte, tão perto, que faça que o seu receptor diga “Espere lá, eu isso não lhe admito!”. Isto é, esta afirmação prova de que nem todos os insultos são passíveis de uma reacção mas que, por norma, existe um, um apenas, que desencadeia uma resposta furiosa. Atente-se neste exemplo. Alguém diz: O senhor é um ladrão, toda a gente sabe que rouba os seus vizinhos da frente, que rouba os seus clientes, que rouba os seus amigos e que rouba até a sua própria mãe!. E é aqui que o insultado riposta “Espere lá, eu isso não lhe admito. Eu nunca roubei a minha própria mãe! O senhor tenha tento na língua!”. Cá está, nenhuma das outras acusações o fez levantar do sofá, mas bastou falarem no nome da mãezinha e era vê-lo de pé e ajeitar o cabelo. E quem diz a mãezinha, diz aquilo que ele disse mas que ele diz que não disse, que fez e diz que não fez, que viu e diz que não viu, não senhor.


E isto é para todos, excepto, para a intelectualidade portuguesa. Pois chegados aqui, todo e qualquer insulto, passa por se chamarem “Fascista” uns aos outros . Só isto. Nomes à mãe? Tudo bem, sem problema. Insinuações de que se terá aproveitado de um subsidio indevidamente? Nada de grave. Agora experimentem lá dizer “O senhor é um fascista!” e vão ver o que acontece. Na resposta, podem ter a certeza que dirão: Espere lá, eu isso não lhe admito!”

4 comments:

  1. Insulto - Injúria grave; ultraje. Acometimento súbito.
    Hábito enraizado na Assembleia da República e nas relações entre dirigentes desportivos.

    Um abraço.

    http://oeldorado.blogspot.com

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  2. Ora aí está uma boa reflexão!
    Eu por exemplo não admito que me mexam nas orelhas!!! -.-'

    Insultos? Digam digam...

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  3. Pois eu tenho para mim que, um insulto sagaz, supera qualquer argumento.

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  4. Gosto muito de ler os seus textos continua a escrever, você leva jeito para a coisa.

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