Friday, January 25, 2013

Balanço Vital

Eis o segundo BALANÇO VITAL, a minha nova rubrica no jornal Metro. O seu objectivo é que o convidado faça um balanço da sua vida, com 5 factos que lhe tenham acontecido (ou em que estivesse envolvido ou que o tivessem marcado de algum modo) e outros 5 que se propõe ainda realizar. Hoje calhou a vez a Álvaro Domingues, geógrafo e professor na Faculdade de Arquitectura da Universidade do Porto, com vários livros publicados sobre temáticas relacionadas com a geografia urbana, o urbanismo e a paisagem.


Momentos áureos, motivos de orgulho

1. Perguntaram-me onde morava. Parecia lógico. Respondi que a cinco minutos do nó da Arrábida. Está bem, perguntaram-te em que lugar, e respondes em tempo. Assim é. Vivemos cada vez mais num espaço-tempo deformado. A velocidade encurta a distância e acelera o tempo. As telecomunicações anulam os dois, e os lugares que conhecemos estão a transformar-se em sites. No site não há distâncias; é tudo em simultâneo e em tempo real. O outro era irreal: ou acessas ou não acessas.

2. O Google é melhor que deus porque responde sempre, dizem num livro que li sobre mitologias. Ao mesmo tempo, a crise existencial daquela treta do “de onde vimos para onde vamos”, resolve-se com um GPS. Ele há coisas que nunca no mundo estiveram resolvidas e agora estão. O mundo é que continua por resolver e o criador não sabe do livro de instruções. O FMI fará um relatório e umas recomendações e o Google responderá.

3. No campo é que se está bem: os grilos e as cigarras, o sol e a chuva, é trigo loiro, é além Tejo, as aves e o seu esvoaçar no azul do céu e nos fios da electricidade estateladas ou poisadas à espera de um electro-choque. Raios parta a troika, Viva a perestroika, diz o pássaro amarelo ao esturricado pela alta voltagem.

4. Na Rua da Estrada passavam carros, como é costume. Um parou e de lá saíram dois humanos e um inumano - cão (talvez cadela, não garanto). O humano disse: está bem aqui? Ela respondeu: parece. E foram. Então, o cão, com o barulho dos camiões a passar, as buzinas, e o pisca-pisca da luz dos travões e um semáforo encravado disse, perdão, ladrou: au, au, que isto não está bem. Os humanos olharam um para o outro e disseram em uníssono: ouviste? O cão ladrou e falou!! Ó bobi, tu falas? Não senhor, respondeu o cão (sempre era cão). Pois, bem me parecia que tinhas sido tu. Quem? Eu? Eu, quem?

Fez-se uma enorme confusão. O cão, aparentemente sereno, abanava a cauda a fazer de cão. À noite, naqueles programas muito palermas da TV, passava insistentemente o vídeo do cão que fala. É a televisão, dizia-se. Muda para a política.

5. Conclusão (de um papel que a minha querida professora Nicole tinha na porta do gabinete): Teoria é quando sabemos tudo mas nada funciona. A prática é quando tudo funciona mas não sabemos porquê. Nós aqui misturamos teoria e prática: nada funciona e não sabemos porquê. Há dias que é um inferno. Noutros arde muito.

Projectos Maravilhosos

1. Ir viver para o Rio da Janeiro e não chover.
2. Voltar ao Porto, depois, e nunca mais ver a Ângela, nem o Coelho, nem esses.
3. Ser Dezembro e pensar que é Janeiro do mesmo ano e ser mesmo e pensar que ainda se tem quase um ano para fazer tudo o que se quer fazer.
4. Voltar ao ponto 1.
5. Voltar ao ponto 2. E depois ir, finalmente, à Lua.


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