O mundo está a precisar de fazer amor, e não falo de forma leviana. Se no mundo se fizesse mais amor, mais de metade dos conflitos que agora existem não existiriam por certo. Cada vez que vejo uma agressão colectiva ou individual, é nisso que penso, aquela gente, aquele indivíduo, está a precisar de amor. Mas o problema, o grande problema, é justamente quando este gente, quando este alguém, não o tem, ou, pior que isso, o rejeita.
Ninguém no seu perfeito juízo, com suficiente amor, pega numa arma. As pessoas com amor não se metem nisso. O amor que têm é suficiente para destruir o ódio que os possa ameaçar e isso basta-lhes para não puxarem o gatilho. As pessoas que se deixam dominar pelo ódio não têm amor, porque se o tivessem isso seria suficiente para baixarem os punhos e para guardarem a pólvora.
Mas não se pense que as armas têm de ser metalizadas; eu já vi palavras ditas mais mortais que uma rajada de kalashnikov. Eu já vi frases que umas a seguir às outras são execuções automáticas, daquelas em que se encostam pessoas à parede e se lhes vendam os olhos, das que se usam em execuções sumárias de países que fingimos não existirem. O mundo está cheio disso e por isso o mundo está sem amor e devia fazê-lo para se salvar. As pessoas cantam canções de amor, emocionam-se com filmes que o celebram, mas chegados ao fim da canção, ao fim do filme, esquecem-se de tudo isso. E é uma pena.
O amor é gourmet, o ódio é bifana com gordura. E o mundo corre o risco de ficar obeso e disforme por preferir os fritos em óleo repetido, quando deveria optar por vegetais e grelhadinhos. O amor não tem gordura, o ódio é óleo queimado e mil vezes repetido.
Fernando Alvim
Crónica publicada originalmente no Jornal i
Vamos ver que milagres vão trazer as altas temperaturas!
ReplyDeleteAlvim!
ReplyDeleteSó mesmo tu para fazeres tal parábola! «O amor é gourmet, o ódio é bifana com gordura»
Adorei...
Mas acho que tens toda a razão, nesta tua dissertação sobre o fazer amor.
Que nunca te falte, fazer «o» amor.
Um grande bem haja.