Eu não tenho medo algum de assombrações, mas ao mínimo barulho em minha casa, salto para cima da cama, fecho a porta do quarto à chave e ligo logo a luz. Aliás estou a escrever esta crónica devidamente envolvido em 2 cobertores de grossíssima lã, mais um edredão, 4 almofadas insonorizantes e uma manta de Arraiolos que estava aqui escondida por um antepassado que terá vivido – e possivelmente ainda vive – neste quarto. Eu não quero que pensem que eu tenho medo – nem pensem nisso, eu sou um homem ouviram? – mas o que eu acho é que vive aqui gente dentro e sempre me disseram para não falar com estranhos. É uma questão de valores.
A minha vida tem sido isto e vejo-me na obrigação de publicamente afirmar que estou a ser assombrado por uma série de gente que poderá não ter bons propósitos. E se querem saber, suspeito que seja gente da noite, possivelmente guardas-nocturnos, barmans do Lux ou dráculas que se alimentam com sangue, porque bastava ouvirem o clique da minha luz do quarto a acender ou a luz do dia a entrar pela janela e zunga, é vê-los a fugirem com o rabinho entre as pernas, caladinhos como ratos.
Na noite passada foi isto, tive a visita de uma assombração vinda de uma das paredes do meu quarto que só dizia isto, eu gostava que se possível chegassem os vossos ouvidos mais a este texto para ouvirem bem, era assim: ai, aí, não pares António, mata-me António, mata-me António!” e eu não tenho dúvidas, aqui vos juro, que numa das paredes se cometia um perigoso ritual satânico em que se estava a atentar contra a vida de alguém - tamanha era a sofreguidão do grito - mas com um falso consentimento, como quem diz - e por favor encostem-se outra vez – mata-me mata-me enquanto sub-repticiamente parecia dizer “ acudam-me, acudam-me, socorro socorro!”. Mas isto não fica por aqui, ouçam só, numa outra ocasião, uma outra assombração, aparece-me em forma de berbequim já com uma finíssima luz do dia e macacos me mordam se aquilo não se tratava de um espírito maligno que em vez de falar, debitava um som altíssimo muito parecido com um Black & Decker a furar uma parede às 8 da manhã, mas que aqui entre nós, me deixava mensagens fortíssimas de desagrado pela minha presença na minha casa. Como se fosse eu no fundo que estivesse a perturbá-los.
Ora, eu não sei se as assombrações estão a ler este texto, se têm inclusivamente hábitos de leitura, mas se sim, peço por favor para atacarem cronistas do Destak, do Expresso ou então o João César das Neves. Eu é que não, caramba. E não saio debaixo destas mantas todas enquanto não me garantirem isto.
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