Já nada dura para sempre, nem o amor como sempre me ensinaram. Até o amor se tornou descartável . Até o amor farta, cansa, entendia, comos aqueles amantes que fartaram de se amar tanto, tanto. Tudo acaba e as histórias de amor deixaram de ter só um inicio, um principio que nunca se lhes acabaria. As melhores histórias de amor são as que nunca acabam, como naqueles filmes em que não existe um fim explicito, em que espectador constrói o final que deseja, o final que lhe parece mais adequado. O amor deixou de ser um filme destes e passou a ter um argumento igual a tudo, com principio, meio e fim. Os mais velhos dizem que as novas gerações não têm princípios, mas isso é de longe, o que agora mais há. Nos dias actuais, há mais princípios do que nunca, mas também há mais finais .E isso é que preocupa. As gerações anteriores nunca experimentaram tantos finais como esta, mas as coisas, dantes, também não acabavam tão depressa. Duravam mais. Uma semana tinha mais que 7 dias, havia semanas que chegavam a durar um mês e tardes - que aqui vos juro - chegavam a durar 3 dias. E quando uma coisa parecia acabar, chamava-se alguém para a arranjar e dar-lhe uma nova vida.
Hoje em dia, substitui-se, já não se arranja. A máquina de lavar avaria-se, compra-se uma nova. A empresa vai à falência, abre-se uma outra. A relação entre os dois piora, muda-se para uma nova. Acabou-se a paciência, acabaram-se os arranjadores que romanticamente arranjavam, para os substituídores que maquinalmente os substituem. Lembro-me bem de ver anúncios de arranjos em que anunciava em letras grandes: Arranja-se tudo!. Em relação a substituídores, não me recordo de alguma vez ter visto " Substitui-se tudo!" . A vantagem dos arranjadores sobre os substituidores é de tal modo, que as próprios expressões dão vantagem aos primeiros. É disso exemplo a mítica expressão: " Mas que belo arranjo!" que com sinceridade não existe para quem substitui. Porque não pode.
Arranjar o que quer que seja, implica resistência ao fim. Enquanto substituir, é a sua absoluta aceitação. Substituir é aceitar o fim, sem pestanejar. Arranjar é espernear furiosamente para poder vir à tona da água . E salvar-se. Substituir é pouco mais do que isso, mas arranjar não se esgota porque precisamente se arranja, desde o emprego para a prima, uns trocos para sair à noite, a máquina de lavar que de novo avariou. Daí que se um dia me perguntarem o que eu sou, direi o que agora sabem: Que não sou mais do que um mero arranjador!
excelente texto fernando alvim. mais um. beijos
ReplyDeleteE...
ReplyDeletevamos a actualizações:
"Um bípede extraordinário, que tem por objectivo principal arranjar o Mundo, pois só assim se arranjará a si próprio" (Alvim).
Se bem que a tua infinita beleza reside mesmo é no desarranjo de ti próprio...
Bravo!
ReplyDeleteGosto e quero acreditar que tudo dura para sempre, ainda que o para sempre seja so agora. Se nao vivo alguma coisa para sempre e como se nao valesse a pena investir. Deixa de ser um amor, para ser um mero conhecido, um trabalho que amas para um part-time sem importancia, perde-se a vontade, a tesao.
ReplyDeleteTorna a coisa prematuramente efemera. Como quando conheces alguem e sabes que nao a vais ver mais, ou uma cidade que sabes que nao voltas mais.
Ainda que "o para sempre" seja so agora, a eternidade tem que estar em cada instante.
Ja dizia o outro, o "agora" e tudo o que temos. Daaaaaasse
Acredito no "espernear furiosamente".
ReplyDeleteConcordo plenamente! :)
ReplyDeleteGostaria só de saber, se possível, a jsutificação para a utilização dessa fotografia. Bom artigo e abraços.
ReplyDeletelá estava ele, acompanhado de uma certa beldade!
ReplyDeleteAlvim, Manel Cruz foi de ir à lua e não voltar.
Mais uma vez escreves cheiiinho de razão... há poucos dias estive a falar com um casal que está casado há 40 anos!! E eles o que me disseram foi: Giving up is to easy... It's just when you fight you discover who you are and with who you are... but the problem is the young people they choose now and again and over again the easiest way to live ... you (the young people) don't battle anymore ... and with attitude you loose all the possibilities to truly Love ....
ReplyDelete(eles eram britanicos lool espero não ter fugido mto ao dialogo mas acho que a mensagem tá la...)
Beijinho
Muito bom!
ReplyDeleteSempre tão bem descritos estes pensamentos simples e importantes.
Gosto de finais sem final... como os teus.
ReplyDeleteA minha interpretação da fotografia é que representa a dualidade pessoa substituída - pessoa à espera de substituír alguém.
ReplyDeleteCreio que nem sempre vale a pena ¨arranjar¨. E quando vale, terá que ser uma decisão bilateral para funcionar. Podemos arranjar coisas ou a nós próprios, mas quando se trata de algo que envolve outras pessoas, só juntos podemos arranjar. ¨Amar não é olhar um para o outro. É olhar na mesma direcção.¨, como disse Saint-Exupéry.
És gordinho.
...E os corações sem capacidade de amar, terão arranjo?
ReplyDeleteO amor tornou-se naquilo que nós o transformá-mos... e é bom ser-se arranjador!
ReplyDeleteBJK e parabéns pelo espaço
a menina esta a comer os meus chocolates favoritos!!!!!
ReplyDeleteBom texto sr alvim
Hoje em dia compramos "coisas" para durarem somente 2 anos. Se tivermos sorte a coisa estraga-se antes dos 2 anos e basta substituir porque está na garantia.
ReplyDeleteOs casamentos também deviam ter 15 dias para devolução e dois anos de garantia.
Estou como tu, no amor antes de substituir devemos sempre arranjar de maneira a durar mais um bocadinho. Mas tudo o que se arranja, uma ou várias vezes, chega a um ponto em que já não tem arranjo possível. A diferença entre o "dantes" e o agora é que arranjava-se, arranjava-se e quando já não se conseguia arranjar mais, guardava-se na mesma, nem que fosse só a fazer feitio. Agora, quando chega a esse ponto, há quem deite fora, em vez de substituir. E só avance quando lhe aparecer um upgrade, porque substituir pelo mesmo, sabendo-se que as mesmas avarias vão aparecer não será lá grande negócio.
ReplyDeleteÀs voltas com o amor, Alvim?
ReplyDeletePipeline
Está muito bom este texto.
ReplyDeleteParabéns Alvim.
Garfield
Eu gosto de comer "Serenatas"- embora ache que a qualidade esteja mto aquém do que me lembrava de quando as comia em criança -, um dia comprei uma e desembrulhei e no interior da prata vinha a seguinte frase: "As coisas só duram o tempo necessário para se tornarem inesquecíveis.".
ReplyDeleteSuponho que este seja o nosso "para sempre"... não é que seja grande consolo, de facto não o é para mim... mas é o meu "para sempre".
Cinnamon
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LINDO! és grande alvim
ReplyDeletehaja saúde!
Concordo plenamente!!
ReplyDeleteDeve-se tentar sempre "arranjar" quando as coisas "avariam", mas no amor tem que ser, como já li algures por aqui, uma decisão bilateral, ou seja, ser os dois a quererem consertar...
http://www.metrolyrics.com/the-fixer-lyrics-pearl-jam.html
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