Como surgiu a proposta para narrares um concerto de música clássica?
Foi por telefone. uma tarde igual às outras e acontece-me isto. Fiquei muito comovido e sei agora o que deveriam sentir as pessoas a quem o Jorge Gabriel ligava a dizer que tinham ganho a Roda dos Milhões. Foi igual.
Perspectivas-te enquanto a pessoa com o perfil mais adequado para desempenhar esta tarefa?
Obviamente que sim e depois disto espero cantar no São Carlos. Ou no Olympia. Ou no Cinebolso, ainda não decidi.
De que forma olhas para esta iniciativa inédita?
Acho que é inédita e é uma boa tentativa de aproximar outros públicos que me parecem andar um tanto arredados destes domínios musicais. Não percebo é porque me convidaram a mim, quando podiam ter convidado o Chalana ou o Paulo Futre, mas pronto.
Narrar um concerto da Orquestra Metropolitana de Lisboa no CCB é um desafio aliciante para ti?
É, porque há sempre a possibilidade de nos enganarmos a meio e ser uma bronca à moda antiga. Para além disso é uma oportunidade única de eu vestir uma indumentária muito parecida com um animal que goza de fortíssima popularidade em terras gélidas.
A tua vida também se reveste de laivos de pantomima?
Para começar, metade das pessoas que estão a ler esta entrevista não imagina o que quer dizer "Laivos de pantomina". E eu - que também não sabia antes de ir ver ao dicionário - posso agora afirmar que a minha vida tem sim, tem laivos de pantomina. O dicionário da Porto Editora pode ajudar muitos dos leitores.
Consideras este género musical algo elitista e dirigido a um nicho?
Acho que é um género que se terá fechado muito sobre si próprio durante imenso tempo, mas que agora demonstra uma franca abertura, como é disso exemplo esta iniciativa. A formação dos portugueses a nível de música clássica deve-se unicamente à banda sonora usada no Boletim Metereológico. Por isso, parece-me lógico que mais do que agradecer a Mozart, Beethoven ou Schubert, os portugueses devem agradecer a Anthímio de Azevedo.
Esta é uma forma de se democratizar um estilo de cunho erudito?
É uma das formas. A outra era ir de porta em porta, como se fossem recitar as janeiras ou dar aquela revistinha, a Despertar. Isso era uma forma de democratizar também muito bonita.
As novas tecnologias devem estar ao serviço de um ampliar de públicos, do ponto de vista de incitar e quase lançar o repto a uma adesão mais massificada à música clássica?
Sim, não tenho dúvidas. A internet veio democratizar isto tudo e daí sofrer tantas resistências nos regimes ainda ditaturiais. Há muito gente que quer ver muita coisa, mas não quer levantar-se do sofá. A internet vai ao sofá, exactamente como a montanha foi a Maomé.
No fundo é o que preconizas com a Speaky TV: levar ao maior número de pessoas projectos culturais mais alternativos...
Sim e não. Vamos cá ver, quero obviamente dar cobertura a eventos mais alternativos que a televisão convencional não liga nenhuma, mas também quero cobrir grandes eventos populares. Não coloco de parte fazer a transmissão em directo da final do campeonato nacional de matraquilhos. Ou a primeira eliminatória do torneio de sueca, no café piolho. A speaky não vai olhar para o umbigo, nem ser uma televisão online para os amigos, a speaky.tv será de todos.
Que balanço fazes até agora deste projecto de televisão online? Está a superar, ou a defraudar expectativas?
Nem superou, nem defraudou. E porquê? Porque ainda não começou e só começará a 20 de Maio. Tudo o que fizemos até agora, foram algumas experiências com directos de iniciativas nossas. Os monstros do ano ( www.monstrosdoano.com) tiveram uma assistência em directo de 38.628 pessoas e o Festival da Canção Alternativo (www.
Como avalias o resultado do Festival da Canção Alternativo?
Uma loucura. Possivelmente o evento mais bem sucedido que terei feito nos últimos tempos. Bons apresentadores, óptimos concorrentes, um vencedor de grande potencial: os Homens da luta. Dia 16 de Maio, vamos estar de olhos postos no festival da Eurovisão para convidar os seus vencedores a competirem connosco. Só se o aceitarem poderão ser Campeões do Mundo, se declinarem, seremos nós, por falta de comparência.
Passar de um registo mais kitsch, para um erudito é uma mudança significativa... És eclético na óptica das tuas preferências musicais?
Sou exigente sim e as minhas preferências musicais vão desde o Sakamoto aos Dead Keneddys, querem maior antagonismo do que este?. Não gosto de ouvir música só por ouvir. Do mesmo modo, que não gosto de ir ao cinema só por ir ao cinema. Nem namorar por namorar. Não gosto de perder o meu tempo com coisas más, embora muitas das vezes seja forçado, a experienciá-las.
A música clássica faz parte da tua "playlist" em casa?
Não e sim. Não, porque não tenho propriamente cd's de compositores de música clássica. Agora que penso nisto, por acaso até tenho uma colecção de uns cds que foram oferecidos por uma revista, mas não os ouço, para minha grande vergonha. Contudo, gosto imenso de bandas sonoras de filmes, que como se sabe, usam imensa - e são francamente divulgadores - da música clássica. Eu próprio gostava de ser Maestro, mas da equipa de voleibol feminina da Suécia, isso sim.
Como o didionário que tenho cá por casa não é da Porto Editora nem tento descobrir o que é "Laivos de Pantomina" ou "Pantimima" como está escrito na pergunta, mesmo só para não correr o risco de me ludibriar acerca dessa expressão de grande valor na nossa língua (acho eu O.o).
ReplyDeleteMuito bem texto!
Bj,
(i)