Sunday, March 07, 2010

A noite está feita ao grupo






O mundo está feito em grupinhos, exactamente iguais aos do liceu. No meu liceu, eu tinha o meu grupinho, e como todos os que ali estavam, comentava os grupos de outros. Acho até que essa é uma das razões principais para se pertencer a um grupo. E não me parece mal de todo.





Os grupinhos chegaram à noite, mas agora de uma forma organizada. Dantes, nos anos 80, abria-se uma discoteca ou bar e tinha-se uma ideia inicial, mas depois logo se via. Eram as pessoas das casas que ditariam a sua sorte, a sua música, o seu porteiro, a sua fama. Agora não. Os estabelecimentos nocturnos – e reparem na elevação com que disse isto – criam-se na certeza absoluta de que só um grupo de pessoas lhes interessa: ou betada, ou carochos, ou gunas, ou “milfs”, ou só putos, ou dança ou rock ou copos, eu sei lá. Mas quem o faz, sabe. E isso é que importa.





Daí que se tenha criado, sobretudo a norte, a expressão: “ Estás-me a engrupir!” que em boa verdade, quer dizer que nos estão a tentar incluir num grupo destes, sem que nada tenhamos feito para isso. Aliás, dizem que a palavra “saudade” só existe na língua portuguesa, pois fiquem a saber – e estou agora a fazer várias pesquisas para fazer uma afirmação com profunda convicção – fiquem a saber, dizia, que a palavra engrupir é também nossa e única em todo o mundo. Não acham linda esta minha descoberta agorinha mesmo? Pois se sim, onde quer que estejam a ler isto, brindemos pois, peçam uns shots, um espumante decente e estalem-se esses copos uns com os outros, que o mundo é nosso.





Onde é que íamos? Exactamente. Falávamos nos grupos, e agora está na moda pertencermos a pequenos grupos. É claro que depois pode dar asneira, olhem o BPN, olhem o BPP, olhem o Salgueiros. Mas pode também dar sorte: olhem a Suíça, olhem o Luxemburgo,olhem o Pingo Doce. Mas com verdade, ser de um pequeno grupo começa a ser um luxo reservado a só alguns. A ideia de clube é elitista – bem o sei – mas não deixa de ser romântica a ideia de termos o nosso grupo, na escola, no trabalho, no café, no bairro ou nas galerias. Nem toda a gente a gente quer ser de todos e ter muitos amigos no facebook, existem pessoas que querem ter só o seu grupo e acesso reservado ao seu perfil. E não os censuro. E até os compreendo. Do mesmo modo, que embora – como quase todos – pertença aos grandes, estou cada vez mais pelos pequenos. E acho graça, acho genuína graça, quando me dizem que são do União de Coimbra ou do Estoril Praia ou do Desportivo das Aves. Num mundo cada vez mais massificado, sabe bem perceber que há dois destes clubes agora referidos, que já foram treinados pelo único, pelo nosso, Professor Neca. E isso é o mais importante.

2 comments:

  1. Categorizar,classificar, catalogar inventariar ("verbos" no "infinitivo" cuja "semântica" é semelhante)... não é essa a história da humanidade? Hoje conheci um rapaz jovem, com muito pouco ar de portuense saudosista, que vai todos os fins-de-semana ao Bessa ver os jogos da 2ªB do Boavista. Faz parte de um grupo restrito e...um bocadinho preocupante, confesso. Mas também lhe achei graça. Genuína graça. Abraço*

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  2. Absolutamente essencial e visionária mesmo, esta referência ao grande professor Neca...um mister como já não mais se fazem!!

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