Sunday, November 25, 2012

Um país a andar por aí!


Ando entretido com o tempo. Vejo com militância budista cada um dos boletins meteorológicos e gosto de perceber que nem sempre acertam com a mão na zona a que se referem. Ainda ontem vi a senhora meteorologista a dizer que haveria precipitação a norte do cabo da roca mais para o final do dia e, apontava claramente para a zona do Carregal do Sal. As previsões meteorológicas são um pouco como as do nosso governo, aponta-se mais ou menos para uma zona que não se está a ver bem, mas que se calcula existir. E depois é esperar que se acerte. Se acertar será claro que é devido à sua competência e extraordinária visão sobre o assunto, se falhar, parece me evidente que terá sido devido a factores externos absolutamente alheios e impossíveis de prever. O tempo o dirá. E também o amanhã. A resposta dá-nos sempre o amanhã, que é uma coisa que se inventou há imenso e é um empecilho para toda esta gente. Aliás o grande problema do mundo é de facto o amanhã. Isto é, se só houvesse ontem ou hoje, este hoje fresquinho de lota com peixinhos aos saltos, este hoje de nascer do dia, de pãozinho quente, estávamos nós muitíssimo bem. Não havia problema algum vos asseguro. Agora o problema, são estes pensadores modernos que vieram com esta moda de pensarmos no amanhã e outros sucedâneos. Isto é que tramou imensa gente. E os meteorologistas sabem-no bem e por isso é que já não pegam o famoso ponteiro de metal e o apontam. Porquê? Primeiro porque não há liquidez financeira para ponteiros de metal nos dias de hoje e porque assim se evita a sua inconveniente precisão. Segundo, porque a mão aberta dá-nos essa visão alargada que está sempre associada ao “ é por aí”. E isto, é justamente igual a irmos ao médico e tirada a camisa para auscultação, o senhor doutor pergunta-nos “ Então onde é a dor?” e nós por entre “ais” e "uis" lá vamos dizendo a muito custo “ oh senhor doutor, é por aí!”. E pronto, é isto. Por isso mesmo é que temos um país que está por aí, quer dizer, temos pessoas que estão também por aí, que andam por aí, que falam por aí e fazem previsões também por aí. O amanhã é uma chatice bem sei e anda por aí, mas é bem possível, que nos diga em breve, se será por aqui.

Fernando Alvim
Publicado originalmente no jornal i
[Fotografia de George Underwood]

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