De cada vez que existe algum problema no nosso país e ninguém parece saber explicar, há sempre alguém que aparece a dizer: "Eu estou aqui a cumprir ordens, meu amigo!". E de cada vez que me o dizem, apetece-me logo perguntar: "Mas a cumprir ordens de quem?ah? A cumprir ordens de quem?". E dito isto, o que de mais cretino me podem dizer a seguir, é justamente: "A cumprir ordens dos meus superiores".
Há por isso uma série de superiores em Portugal que ninguém sabe quem são e, mesmo que se saiba, quase aposto que se lhes for feita a mesma pergunta, responderão: Eu estou aqui a cumprir ordens!" e se a estes lhes perguntarmos com natural inquietude: A cumprir ordens de quem? É invariável que a resposta seja "a cumprir ordens dos meus superiores!" E andamos nisto. Os superiores não acabam e parecem estranhamente um daqueles planetas que dizem existir mas que com verdade, não há provas cabais, de que existam mesmo. Os superiores são o infinito que é impossível localizar e perante esta impossibilidade, esta expressão, parece que iliba quem a pronuncia de qualquer incompetência ou atrasadisse mental que nos parece evidente. Quem faz uso da mesma, na verdade, não se quer chatear e é muito mais fácil usar a expressão do que justificar determinada atitude, com, imagine-se, uma série de razões que a fundamentem. Pensar dá uma trabalheira imensa e termos uma opinião fundamentada sobre aquilo que acabamos de dizer ainda mais, como naquelas discussões que sabemos de antemão, não se chegar a conclusão alguma. Ora se não vamos chegar a qualquer conclusão, se aquilo não vai sair dali, porque motivo vamos estar nós a apresentar uma resposta que possa despoletar ainda mais perguntas?
Daí que o "Eu estou aqui a cumprir ordens" cai como uma luva. É o "porque sim" que os nossos pais respondiam, quando lhes perguntávamos porque raio teríamos que comer a sopa toda? É o "só falo na presença do meu advogado". É o sempre enternecedor "Eu só faço o que me mandam fazer". Em Portugal, há demasiadas pessoas que não têm coragem de pensar por elas próprias e mesmo que o tentassem não o saberiam fazer, porque há muito se habituaram a não pensar. Porque não pensam. Porque com verdade, perde-se muito tempo a explicar o inexplicável. Porque não sabem. Porque é muito mais fácil fazer uma versão mil vezes repetida do que criar um original, seja uma música ou uma resposta. E assim há muitas pessoas que se transformaram numa banda de versões, que toda a vida cantam as canções dos outros sem nunca terem feito um esforço para fazerem uma realmente sua. Tal qual uma resposta.
maravilhoso!
ReplyDeleteBoa tarde Alvim,
ReplyDeleteConcordo a 100% contigo, mas discordo numa parte, ou seja, na parte que toca ás "pessoas não pensarem por si próprias" a questão é?
Será que não serão as pessoas que não podem ou não convém, sequer, pensar por si. Isto porque acima delas, de facto, deverá existir alguém que as despede caso elas se comprometam, comprometendo o seu superior.
Isto é, a pessoa que te diz isso, geralmente, é aquela que te atende, aquele que está em frente ao cliente, aquela que passa um dia a levar nãos e sims mal passados (mais quantidade dos primeiros), mas é também aquela que por ter dito algo que a comprometeu levou o superior a dar-lhe na cabeça porque ele a ouviu...e isso faz as pessoas, por precisarem, acomodar-se ao eu não lhe sei responder, isso é com o meu superior! Assim simplesmente estão a salvaguardar a sua posição.
Não sei, mas há que avaliar o contexto!
O problema não está nas pessoas, mas nos patrões que incitam à timidez, à obrigação de estar sem ser necessário, enfim, a uma realidade irreal que torna, geralmente, as pessoas em seres pensantes não pensantes.
Eu quero lá saber do cliente que chega...eu quero é o meu emprego enquanto o poder garantir...nem que para isso tenha de por a minha personalidade e a vontade de responder o que penso de lado. Não é o meu caso...isto é apenas uma reflexão sobre o que possa ser.
Grande Abraço,
TMA
http:/westerneutour.blogs.sapo.pt
O Tiago acertou, mais do que tu Alvim.
ReplyDeleteAfinal, quem é que teve preguiça de pensar?
E o outro lado?
Sim, eu sou um dos visados.
Mas permite-me, não desculpar mas sim justificar a espiral de responsabilidade transferida.
Quando estás numa posição em que a tua opinião não interessa e estás sujeito à apreciação de um superior e a procedimentos estabelecidos, tens mesmo de calar a boca e responder que vais encaminhar, reportar e que após análise haverá contacto. No meio disto, o "porquê, quando, onde e como" fica para depois, porque não tens resposta que possas dar. Não depende de ti e temos de compreender que as coisas são feitas assim, propositadamente.
A imagem global, sem identidade individual, sem responsabilidade directa e culpável.
Mas acredita que quem te responde assim é provavelmente a pessoa que menos responsabilidade tem e no entanto a mais prejudicada, pelo procedimento, pela má receptividade do cliente, pelas consequências, mas sobretudo pela falta de meios para poder agir conforme dita a sua consciência e pelo sabor áspero de ser obrigado a engolir o orgulho e tudo o resto que advém da dependência e perpetuação destas situações.
"despoletar ainda mais perguntas"
ReplyDeletedespoletar? despoletar???
então e os ensinamentos da prova oral de segunda feira passada?
Estou contigo em 95,78% deste post!! O restante, prende-se com o espaçamento entre parágrafos...não posso concordar!!
ReplyDeleteAquele abraço,
GASPAR GOMES.
WWW.SEMGAS.BLOGSPOT.COM
Phil Mendrix \m/ :)
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