A vida é um minuto e no entanto pensamos que é mais. Basta um minuto para a nossa vida mudar irreversivelmente e é atrás desse minuto que andamos todos. Ou a fugir dele algumas vezes. E há toda uma espécie de minutos, do mesmo modo que havia aqueles bonequinhos nos anos 80 que saíam com os bollycao (os tou, lembram-se?) pois bem, há minutos vilões, humanitários, minutos de azar, de sorte, roubados, vaidosos, minutos mal formados, minutos mal contados, minutos sem vergonha mas também de glória. E no meio de tanta variedade de minutos como agora há de gins, apetece-me dizer que os de maior relevo são os minutos decisivos. E porquê? Porque os minutos decisivos, fazem o que mais lhes compete, decidem. Há pessoas que dizem que todos os minutos são importantes, eu acho essa visão romântica, aplaudo-a e enxugo as lágrimas, mas a verdade é que é falsa. Do mesmo modo que não há duas pessoas iguais, também não há minutos. Mas isso não quer dizer que não sejam dispensáveis. São sim.
A mim quando me pedem “um minuto” eu dou logo dois. E quando me pedem exemplos do que agora escrevo, também o faço. Perguntam-me: Então qual o minuto da Diana Spencer? Foi quando disse sim a 29 de Julho de 1981. Então e do Mourinho? Foi aquele minuto contra o manchester United a 9 de março de 2004 em que o Costinha a meteu lá dentro e levou o Porto à final. (Vejo agora que a Wikipédia destaca isto na vida do Costinha e não o faz na de Mourinho). Burros.
A vida não teria sido a mesma se aquilo não tivesse acontecido. Nem a minha, se a 2 de Março de 2009 não tivesse perdido o comboio e em consequência disso - por estar sem fazer nada num corredor de uma estação de rádio - o meu director de então não me tivesse encontrado e convocado para um casting televisivo que viria a vencer. Este foi o meu minuto decisivo e por isso posso agora dar dois. Mas para quem ainda não o tenha tido, à pergunta: Dás-me um minuto? Por via das dúvidas, deverão sempre responder: não dou.
Fernando Alvim
Publicado originalmente no jornal i
[Fotografia de Thomas Millet]
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