Um mês depois do 11 de Setembro tive, por obrigação profissional, de visitar os Estados Unidos para fazer a cobertura de uma banda, os Incubus, que actuavam em Chicago. Digo que foi uma obrigação profissional porque de outro modo, não me apanhariam no país, porque a medo era muito e a desconfiança entre todos era grande. Não é que eu seja medricas – não sou – mas a verdade é que dormi com luz de presença no meu quarto até aos 6 anos. E não gostava de falar disso. Adiante.
Nessa altura, qualquer um de nós, olhava para os outros, como um potencial criminoso por descobrir. Bastava uma mala abandonava no aeroporto e obviamente que o pânico estava lançado, uma senhora com uma permanente mais elevada e era justo que se suspeitasse que escondida no seu cabelo pudesse estar uma arma ou explosivos. E se assim era com todos, com aqueles que correspondiam ao protótipo de um terrorista, as coisas complicavam. E foi justamente uma pessoa destas, igual, repito: igual, a um desses terroristas, que estava junto à zona de embarque para o meu regresso a Portugal. E para quê? Adivinhem lá? Exactamente: para viajar connosco, no mesmo avião.
Ora, obviamente que já todos os passageiros tinham reparado na presença dele e o meu medo aumentou - pronto está bem, pânico! - quando percebi que era justamente ele que estava sentado ao meu lado. O homem não tinha bom aspecto, o homem suava muito na testa, o homem rezava uma língua que eu não compreendia. E a minha interpretação de todos estes gestos e características era só uma: “ Este homem vai mandar o avião pelos ares e deve estar a fazer umas orações para se despedir!”. E partir daqui, comecei a fazer humor com tudo o que o homem fazia e dizia, alegrando uma plateia imensa - pronto, uma fila ou duas - que mesmo sentindo o mesmo medo que eu revelei, ao menos se divertiam com o episódio. O avião chegou inteiro, nós também como comprova este artigo e meu companheiro de viagem, da última vez que o vi, estava a rezar já na parte de recolha das malas. É muito feio termos este tipo de preconceitos e se ele me estiver a ler e perceber uma palavra do que aqui está – que acho difícil – gostava de lhe pedir desculpa. E de lhe dar um abraço. Ou quem sabe, rezarmos em conjunto.
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