Ao contrário do que possam pensar, eu gosto muito de centros comerciais. E quando me pediram para escrever sobre este, eu disse logo que sim, abanando muito a cabeça. Disse porque o conheço e porque tem uma característica, que desde logo me agrada muito: cheira a novo, é isto mesmo, como se tivesse acabado de tomar banhinho e se fosse enrolar connosco no sofá, a ver televisão, de cabelo molhado, muito abraçadinho a nós, enquanto comemos uma coisa quentinha.
Por mim, vivia sem problemas num centro comercial. De manhã acordava e ia para a praça alimentar. E depois daí organizava a minha vida, buscando com um simples subir ou descer de andar, tudo o que ela me pedisse. A norte então, sinto que as pessoas vivem mais esta coisa de estarem juntas. A sul, perdeu-se mais isso. Já ninguém vai a casa de ninguém, sem avisar antes, como se pudesse ser incómodo aparecer sem contar, como se pudéssemos estar a interromper algo, como se isso não fosse, como deveria ser sempre, uma grande alegria. Eu sou desse tempo, que nos visitávamos uns aos outros, como se isso fosse um jogo, em que muitos não tocavam sequer à porta de casa, dizendo apenas enquanto a abriam "posso?". E logo se ouvia "Entra, entra!" E é claro que entravam, as vezes que fossem, às horas que calhassem. Lembram-se? Perdoem-me o romantismo, mas um centro comercial, por vezes assemelha-se ainda a isto, porque são várias casas de porta aberta, cheias de vontade que as visitemos, que entremos nelas com se fossem nossas, que nos sintamos à vontade para ali permanecermos e se não quisermos não comprarmos nada. Por vezes, gosto que funcionárias mais atenciosas me perguntem. "Em que posso ajudar?". E quando me o dizem, respondo sempre de formas diferentes: "Pode pois, venha tomar o pequeno-almoço comigo!"; " pode pois, ajude-me a levar este micro-ondas à garagem!", " pode pois, fujamos os dois para o jardim mais próximo".
Por mim, vivia sempre num centro comercial, neste texto, nesta página, com lojas decoradas de natal, com pessoas felizes por terem comprado o que queriam, com escadas rolantes, com preços nunca antes vistos, com funcionárias a dizerem "Em que posso ajudar?", com Jingle Bells pois, sem Jingle Bells, com a funcionária Maria Cristina a ser chamada à recepção com urgência, com os namorados ocasionais que trocam batatas fritas de uma conhecida marca alimentar como se estivessem a prometer algo, com as crianças a pedirem tudo, com as lojas aperaltadas como se fossem sair à noite. Por mim, vivia bem neste centro comercial e se querem saber, dormia já cá hoje.
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