Saturday, January 12, 2008

Oldboy


Antes de tudo, gostava de dizer que gosto de cinema, desde o filme até ao cheiro das salas. Há salas de cinema que cheiram a livros novos e outras que me fazem lembrar o cheiro da casa dos meus avós onde passava os meus natais em tenra idade. Dou muita importância às salas de cinema e não percebo porque raio ainda não entenderam que os braços das cadeiras da plateia deviam ser facilmente removíveis. Dirão alguns: “Mas são!” direi eu: “Não são, não senhor!”. E arregaçando as mangas vou já dizendo que é muito aborrecido não conseguir estar abraçado à nossa cara-metade devido – precisamente! - ao estupor deste braço de cadeira que tudo faz para separar duas pessoas que se querem juntas.


Adiante. O filme que eu escolhi chama-se Oldboy e é de Chan-wook Par. Estive muito indeciso entre este, A festa” de Thomas Winterberg, AMARCORD de Fellini, qualquer um da Trilogia de Krzysztof Kieslowski e claro Fim de Semana Lusitano de Ana Teresa Antunes . São muito diferentes, bem sei, mas escolhi este, porque talvez me tenho feito dormir menos noites sossegado e me tenho feito ver um polvo cru de uma forma muito pouco ortodoxa.


E não só o polvo que aqui nos é dado como uma refeição crua, toda a história que nos é apresentada segue a mesma linha, há uma crueza sem misericórdia, há uma tristeza tão forte que não chora, como naquelas noites em que de tanto estarmos cansados não conseguimos adormecer. Há uma vingança em tudo isto e como decerto saberão, as vinganças só acabam quando tudo à volta estiver dizimado. E é isso que o filme se propõe fazer, acabar com tudo à volta de um homem que talvez tenha cometido um crime, precisamente o de ser ter cruzado com aquele dia.

O mesmo homem que fica 15 anos fechado num quarto sem saber qual o motivo. Apetece citar Kafka “Alguém deve ter difamado Joseph K. pois numa bela manhã, acordou preso sem ter cometido qualquer crime”. O processo contudo alonga-se por mais que um dia, espraia-se por anos a fio, por todo o filme quando já a cadeira onde estamos se tornou mais rija e obviamente mais desconfortável. De resto, a película não procura conforto algum, bem pelo contrário, quer-nos sentir inquietos como se uma porta tivesse ficado por fechar e uma corrente gélida percorre-se o corredor em direcção aos pés, aos nossos pés.

Oldboy é um filme tão bom que fazemos questão de ver a ficha técnica quando todos já vão saindo da sala. Mas ao contrário dos outros filmes onde a mesma ficha técnica é exibida, nesta, damos atenção aos pequeníssimos pormenores, ao responsável pela edição, pelo figurino, ao nome do assistente de câmara e ao segundo ajudante do supervisor sonoro.


E é isto que o torna diferente: O receio de sairmos do filme, com medo de podermos encontrar uma realidade semelhante no elevador de acesso ao parque de estacionamento, onde possivelmente teremos esquecido o local exacto onde teremos deixado a viatura. Oldboy sabe exactamente o seu lugar. E esse lugar, pode ser muito distante do que havíamos imaginado.

11 comments:

  1. A descição fez-me lembrar um filme que vi há tempos: A Caixa Kovac.
    Fui porque os bilhetes foram ganhos num forum e julguei que era um filme de acção. Pois..não era. Aterrorizante. Não é excelente, mas deixa-nos numa agonia desesperante sempre que ouvimos a música. E apesar das falhas..dá que pensar.

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  2. boa escolha alvim...

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  3. Curioso como, no dia em que escreveste esse post, eu fui ver o Saw e pensei nos braços das cadeiras.

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  4. Pensei ser a unica a odiar os braços das cadeiras do cinema, mas felizmente ah alguem que partilha comigo este sentimento de repulsa. obrigada alvim*

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  5. o Old Boy é fabuloso!
    E se gostaste só te digo para veres os outros 2 da "Vengeance Trilogy" do Chan-wook Park, o Sympathy for Mr. Vengeance (antecede o Old Boy) e o Sympathy for Lady Vengeance (mais recente, de 2005).

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  6. Eu só quero referir o poder k vossa excelência tem em verbalizar akilo k nós, simples mortais, por xs n conseguimos.. como p.e. o cheiro dos cinemas.. é algo k adoro reparar :)

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  7. ah! sobre os filmes não comentei... ups! e tb n vai ser agora.. hihihi beijinhos 'alvin'

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  8. oldboy é toda uma escola de cinema

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  9. Sempre prefiro a crueldade calculada dos SAW.
    E um dos meus lemas de vida apareceu depois de ter visto num desses filmes umas frases que rezava mais ou menos isto - o que farias para te manteres vivo? Dás o devido valor à tua vida?

    Marcante!

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  10. Tenho isso por aqui para ver...

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