João Quadros. “O Gaspar é o alien que está enfiado no corpo do primeiro-ministro”
Por Luís de Freitas Branco, publicado em 17 Dez 2012
Pedimos ajuda ao humorista para um balanço de 2012. A única coisa de que se arrepende é de não ter comprado acções do BCP ao preço da bica
Angela Merkel é o homem do ano e o melhor programa de televisão é o que o Bruno Nogueira vai fazer em Janeiro. João Quadros, “uma figura influente da sociedade portuguesa, como é também do Bangladesh, das ilhas parmesão, da Guatemala e de Vila Pouca de Aguiar”, como se pode ler na apresentação ao novo livro “Um Tiro no Porta-Aviões”, é a pessoa ideal para fazer a revista do ano que está prestes a acabar. É certo que muita coisa ficou de fora, mas o humorista, licenciado em gestão, que já trabalhou com Herman José e faz o “Tubo de Ensaio” com Bruno Nogueira, só lamenta duas coisas: não ter comprado acções do BNP e o facto de a mulher não ter idade para ler “As Cinquenta Sombras de Grey”. Do social à economia, João Quadros recorda o melhor e o pior de 2012. Quanto ao futuro há uma certeza: vamos descobrir petróleo em Sagres.
De que forma o seu livro vai mudar o mundo?
Espero que de maneira nenhuma. Em relação ao livro estou um bocado como o Sporting, que venha a desgraça completa a ver se isto muda.
O que tem a dizer dos últimos avanços da crise?
São mais recuos. Mas não vejo grande saída, acho que estamos completamente entalados. Tem de vir alguma coisa chata e espero que seja depressa, não quero que os meus filhos acabem na guerra.
Em jeito de balanço do ano, qual foi a personagem do ano?
Por mais que me custe, a Angela Merkel é o homem do ano.
E Gaspar?
Isso é as ervilhas que vêm com o bife, praticamente não conta.
Qual o momento musical do ano?
Este ano estive um pouco afastado, adoro música, mas mal comprei discos. Se tiver de destacar alguma coisa tem de ser o concerto de Peter Hook no CCB. Foi brutal, fez-me voltar a ouvir Joy Division todos os dias.
E cinema?
Também falhei no cinema, este ano foi o mais estúpido da minha vida. Vi um filme que não é deste ano, mas que gostei muito, o “Let the Right One In”. A primeira versão é melhor, tal como na série norueguesa “The Killing”.
E televisão?
Na televisão o que gostei mais foi o programa do Bruno Nogueira que vem aí, felizmente não fui eu a escrever. Estreia em Janeiro. Mas sinceramente eu este ano não vi nada.
Se a Luciana Abreu voltou para o Djaló e o perdoou, acha que a troika nos vai perdoar?
Não, não tem nada a ver. Eles são racistas e a Luciana não é.
Ainda se lembra das promoções do Pingo Doce?
Já nem me lembrava, o que quer dizer que talvez não tenham corrido tão bem. Este ano houve algumas coisas em grande.
Como o Banco Alimentar?
Isso é outra coisa, é meramente chato. Gosto do banco, mas não da senhora que se senta no banco.
Qual é a melhor dupla: Judite de Sousa e Medina Carreira ou Judite de Sousa e Marcelo Rebelo de Sousa?
Marcelo Rebelo de Sousa e Medina Carreira, isso é que se devia tentar fazer. De um lado estaria o que tem muita noção da verdade e do outro o que tem grande capacidade para a mentira. Havia de ser muito engraçado.
No que toca aos temas do social, o que o marcou mais: as mamas da Kate Middleton ou a operação da Alexandra Lencastre?
A operação da Lencastre vi hoje e já fiz um “Tubo de Ensaio” sobre isso. Achei espectacular, se eu tivesse entrado no “A Tua Cara Não Me É Estranha” faria o mesmo, mudava de cara, identidade e país. Ela basicamente fez o que faziam os antigos criminosos nazis.
A família real inglesa é mais divertida do que a “Casa dos Segredos 3”?
A família real inglesa é muito mais gira porque causa mortes. A “Casa dos Segredos”, até ver, ainda não chegou a isso.
Acompanhou a história da enfermeira de Kate Middleton?
Sim, achei absolutamente magnífico. É espectacular que a culpa seja dos australianos. De certeza que eu já assassinei montes de gente, só o senhor do talho a quem eu telefono a perguntar se tem mãos de vaca e rabo de porco, já se deve ter suicidado várias vezes. Não acredito que alguma piada justifique um suicídio, ainda por cima a enfermeira era simplesmente quem passou a chamada.
O que não pode faltar no Natal de 2012: a Popota ou o José Rodrigues dos Santos?
Se tivesse de dormir com um, prefiro o José Rodrigues dos Santos à Popota. Por acaso, ainda não contei aos meus filhos que não podem meter o burro no presépio. Mas de qualquer modo, eles já puseram no presépio um tiranossauro rex e um dragão.
Já leu “As Cinquenta Sombras de Grey”, o best-seller de 2012?
Não li e infelizmente a minha mulher ainda é demasiado nova para ler isso, ela tem menos 12 anos que eu. Eu gostava que ela fosse mais velha para lhe acontecer o que oiço dizer, “que elas voltam a ter vontade”. Como presente também já não dá para a minha mãe, acho que não vou dar o livro a ninguém.
Qual é o presente que vai oferecer mais vezes este ano?
Garanto-te que é verdade, vão ser aqueles pacotes da Vida é Bela. Tenho lá seis ou sete que me ofereceram e vou tentar despachá-los.
Em 2013, que curso é que vamos descobrir que o Relvas também fez?
Não, eu acho que vamos é descobrir petróleo. Em princípio vai ser em Sagres, onde começámos as nossas grandes epopeias. Tenho quase a certeza absoluta disso, um palpite desde que nasci. Vamos todos ser ricos, mesmo com o que os políticos roubam.
Então para o ano não somos angolanos?
Não, por causa do petróleo. Mas vamos voltar a comprar Angola.
O Sporting vai continuar a perder?
Eu tenho esperanças que apareça petróleo, agora do Sporting não. O jogo com o Benfica foi péssimo, não há nada pior que fazer uma primeira parte à antiga e uma segunda ao habitual. Para resolver o clube tinha de ser uma solução brutal, como uma metralhadora.
Qual é a solução então?
Aquelas mangueiras dos bombeiros na pressão ao máximo. Temos de ir para a segunda divisão e fazer de novo.
Quantas vezes é que o Medina Carreira vai aparecer nos jornais?
Eu acho que ele já apareceu o suficiente. Acho graça porque é chato uma pessoa chamar ladrões aos outros todos e depois acontece-lhe o mesmo que estava a criticar.
Passos Coelho vai divorciar-se de Gaspar?
Isso nunca acontecerá. Pode haver divorcio de Portas com Passos Coelho, agora com o Gaspar é impossível. O Gaspar é o alien que está enfiado no corpo do primeiro--ministro.
O que guarda o seu futuro?
Propus à RTP fazer o regresso do “Duarte e Companhia”, mas ainda está tudo em hiato. Queria ver o que acontecia à RTP antes de pôr lá as coisas e nunca mais as ver.
Alguma opinião da privatização?
Um crime e não digo isto por dar jeito.
Se pudesse voltar ao ano de 2012, antecipando tudo o que já sabe, fazia alguma coisa diferente?
Acho que era capaz de ter comprado acções do BCP, naquela altura uma bica dava para comprar dez acções. Isso é a única coisa de que me arrependo.
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