Sunday, December 19, 2010

Entrevista ao JN


Entrevista ao Jornal de Notícias a propósito do novo livro "Não atires pedras a estranhos porque pode ser o teu pai" e da nova editora Cego, Surdo e Mudo, criada para este e outros projectos literários. Podem ainda ver alguns momentos da entrevista em vídeo, AQUI.

Na “Inútil introdução” deste livro, diz que as editoras lhe sugeriram escrever um romance, mas insistiu nas crónicas. Viu-se obrigado a criar a sua própria editora, a “Cego Surdo e Mudo”, para conseguir editar o livro?

Obviamente que não, mas achei que deveria começar a construir o meu império de comunicação agora de forma a dar luta à Cofina, à Lusomundo, à Impresa. São grupos que tremem quando ouvem o meu nome e a notícia da criação deste minha nova editora, veio criar fissuras nunca antes ocorridas nas mais altas patentes administrativas. Sei, de fonte segura, que Pais do Amaral, sabendo da notícia, se refugiou para meditação no Kilimanjaro. E o caso não é para menos, em breve irei começar a comprar os mais tenrinhos. A Cego Surdo e Mudo é a editora que faltava a este país e um outro que não sei agora precisar o nome. Fora isto, não tenho tempo para escrever romances. E também começo a acreditar que existam poucas pessoas com tempo para os ler.

Como é estar dos dois lados: escritor e editor?

É muito difícil, é como estar do lado do Bloco de Esquerda e de repente com as Carmelitas Descalças a rezarem pelo Passos Coelho. De qualquer modo, eu não sou escritor, sou alguém que escreve livros, o que não é a mesma coisa. Enquanto editor, a minha ideia é revelar livros que em nenhuma outra editora pudessem ser publicados. Quero arrojo e audácia, as letras dos cânticos do Coro de Santo Amaro de Oeiras dificilmente aqui serão publicados.

De onde surgiu o título “Não atires pedras a estranhos porque pode ser o teu pai”?

Da leitura de um livro onde estava incluída esta frase, não exactamente assim mas muito parecida. Era uma frase que estava perdida num texto sem que aparentemente alguém lhe desse valor e eu dei-lhe a mão, como acontece muitas vezes com as pessoas. As frases também precisam que lhes dêem a mão, as palavras também, as pessoas é que não sabem, mas as letras, os caracteres se quiserem também têm sentimentos, caramba!

Neste livro estão reunidos dois anos de crónicas. Houve alguma selecção? Qual foi o critério de escolha?

Sim, tive duas selecções, a portuguesa e a italiana, mas optei pela nossa já na era Paulo Bento. Sou amigo do mister, devia-lhe isso. Quanto ao critério, é o meu, não sei se isso é bom ou mau, mas não tenho outro. Escolhi aqueles que me pareciam melhores, um dia – nunca se sabe – editarei tudo aqui que excluí durante este tempo. Esse livro irá chamar-se justamente: Lixo.

Como humorista e cronista, vê em Portugal um país rico em matéria-prima?

Obviamente que sim. Portugal é um óptimo país para morar e comer sardinha assada e tem pessoas que não sabem dizer a palavra salsicha, dizendo “xóxicha”. A juntar a isto, há todo um país de risca ao meio para descobrir. Bem sei que em termos capilares não estou muito à vontade para falar, mas Portugal precisa rapidamente de ser despenteado. É isso que eu tenho vinda a promover desde que nasci, numa espécie de movimento de evangelização. O pente para mim é como uma cruz apontada à testa da vampiragem.

Numa entrevista que deu recentemente, disse que queria ser conhecido como “o António Barreto dos pequeninos”, uma “versão low cost”. Porquê o António Barreto e não outro cronista?

Sim, podia ter escolhido o Boaventura Sousa Santos, mas gosto muito mais do António Barreto, até porque é do Douro, local onde tenho profundíssimas ligações umbilicais, sentimentais, parentais e também casuais. De resto, eu também tenho a pretensão de um dia dirigir uma fundação mas com outros objectivos. Será a primeira vez que irei criar uma fundação não para ajudar os outros, mas precisamente para que me ajudem a mim.

Este é o primeiro livro de uma trilogia. O que é que o leitor pode esperar dos dois próximos volumes?

Obviamente que apareça o senhor dos anéis a dada altura. Ou outra coisa qualquer. O próximo é meu lado mais sensível, o mais lado mais cantor romântico, a minha costela Julio Iglesias. O livro “No dia em que fugimos tu não estavas em casa” é um livro de amor e não de humor. Irrita-me bastante quando o vejo na secção de humor de uma qualquer livraria, porque ele não é disso. O outro, “Não és tu, sou eu” para além de contar com as ilustrações do Manuel Cruz que fez a capa e o prefácio de Manuel João Vieira, fala sobre esta temática – o amor – mas agora sim, de forma deliberadamente humorística.

Este livro está a ser editado por altura do Natal, o próximo sairá no Dia dos Namorados e o último no Verão. Já está a aplicar conhecimentos de marketing editorial?

Evidentemente. Um para o Natal, outro para o Dia dos Namorados e o último para o Verão. É curioso, mas a minha ideia é mesmo que as pessoas possam ler o que escrevo. Se calhar pode parecer pretensioso, mas quando escrevo esse é o meu grande objectivo: ser lido. Não gosto de escrever para mim, do mesmo modo que não gosto de dançar sozinho. Ao editar o livro, se ao editar o livro, o fizer em alturas em que sei que as pessoas estarão mais predispostas a lê-lo, acho que terei sido inteligente com isso. Nestas coisas tenho a mesma opinião da Cicciolina: Quanto mais melhor.

Já existem outros projectos para serem publicados pela “Cego Surdo e Mudo”?

Sim, para além destes outros dois livros, editaremos finalmente em 2011, o “Grande Livro dos Prefácios”, uma ideia original minha, coordenada pela Ana Sousa Dias que contará com grandes nomes entre as suas participações. Basicamente é um livro que faz uma homenagem justa ao prefácio, de tal modo, que cada um escreve um prefácio, para um livro, que – não sei bem como dizer isto – que não chega nunca a começar, se é que me faço entender. Para além disso, temos já alguns autores interessados em publicarem por nós o que muito nos contenta. Se quem tiver a ler isto, tiver uma boa ideia pode sempre contactar-nos por aqui: cegosurdoemudo.pm@gmail.com. Se forem raparigas, podem anexar fotografias vossas na praia. No Verão, na Praia de Moledo ou coisa assim.


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