Friday, September 06, 2013

Até prova em contrário toda a gente gosta de sexo à bruta

Embora não seja meu costume, tenho pensado muito em sexo nas últimas semanas. E não: não tem a ver com a falta dele ou algum ressabiamento daí derivado; nem com o Verão; nem com o facto de as mulheres se vestirem menos; nem com a praia; nem com as revistas a abarrotar de pessoas que se dizem felicíssimas; nem com as noites que agora se tornam mais longas; nem com os dias que convidam à preguiça.

Tenho pensado muito em sexo porque estou a desenvolver uma tese que defende esta ideia: até prova em contrário, toda a gente gosta de “sexo à bruta”. E não pensem que o digo de forma leviana. Não senhor! Nos últimos dias refugiei-me num claustro para os lados da Serra da Arrábida e, munido de enciclopédias várias, de ligação rápida à net e do registo de longas conversas com seres humanos iguais a nós, cheguei a esta conclusão: todos gostam, mas poucos são os que o admitem. Ora por pudor, ora porque simplesmente ninguém tem nada a ver com isso. E, de facto, não tem.

Mas a verdade é esta: o “sexo à bruta” existe e é habitualmente posto em prática pelos seres mais conservadores, mais reservados e, obviamente, por aqueles que há muito perceberam que sem ele não se vai a lado nenhum. É exactamente como andar na auto-estrada nos limites de velocidade estabelecidos: cumpre-se a lei – é certo! – mas parece que não saímos do mesmo sítio. Talvez por isso, o “sexo à bruta” encoste o pedal a fundo, não ligue aos radares, não use cinto e fale ao telemóvel durante a condução.

Então e o amor, onde fica no meio de tudo isto? Já cá faltava! O amor não tem nada a ver com isto, porque se pode amar alguém de forma autêntica e verdadeira e, no entanto, expressar esse mesmo amor desta forma, digamos, abrupta. Uma amiga minha confidenciou-me: “O meu namorado gosta muito de mim, mas é muito molinho! Percebes? Pensa que o amor é apenas fazer aquilo!”. E não é. Esperem lá, pode ser aquilo, mas não é só aquilo, se é que me faço entender. O acto em si deve ser entendido como uma imponente orquestra onde todos os instrumentos tocam e os violinos se destacam numa chiadeira tal que nos lembram a maldita cama que teima em fazer mais barulho do que seria de supor. Confessem: quantos de nós já foram para o chão para não acordar os vizinhos? Sejamos francos: quem é que não se importa com o barulho da cama e sonha com o dia em que se inventará uma com silenciador? Quantas foram as vezes em que fomos obrigados a tapar a boca da nossa parceira com um pano da cozinha, que era o que estava mais à mão?

É claro, haverá alguns que dirão que não, que nunca o fizeram, mas esses são precisamente aqueles sobre os quais recairá mais tarde o comentário pouco abonatório de que eram “molinhos” – repito: “molinhos!” – por parte das respectivas namoradas, o que, convenhamos, não é agradável. É muito bonita essa coisa do “gosto muito de ti, és a mulher da minha vida, quero que este momento não acabe nunca”. Mas é tão ou mais importante serem ditas frases como “O teu cheiro excita-me” ou “És uma prostituta de grande categoria!”. Ou, se quiserem elogiá-la com finíssimo recorte e bom gosto, experimentem: “És mais apertadinha que um rebite de submarino!”.

Publicado originalmente algures por aqui:



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