Monday, May 06, 2013

O que o Gabriel Alves nunca escreveu



Fanatismos à parte, o futebol é o exemplo melhor do que deve ser o sistema de meritocracia. Se todas as empresas o seguissem, possivelmente muitas delas ainda jogariam na primeira liga. Aliás, podemos começar por aqui. Pergunto: que outro desporto tem um baptismo tão erótico como o futebol para o seu escalão principal? Experimente-se dizer a alguém menos avisado que vamos para a primeira liga e é quase certo que este pensará que estamos a caminho do Elefante Branco. E, por vezes, há quem faça a dobradinha sim. O futebol tem isto porque move paixões e são poucas as pessoas que não amam o seu clube. Eu amo o meu, de tal maneira que chorei como um menino ao terceiro golo do Cardozo.

Isto é tudo muito bonito, muito lindo como diz o Enzo Perez, mas também é verdade que como qualquer paixão, o futebol pode ser irracional ao ponto de transformar uma pessoa sensata numa daquelas bestas que vemos à solta no National Geographic. Contudo, ainda assim, a paixão move e faz vencer. E uma empresa, um país, uma pessoa que não a tenha, dificilmente conseguirá. O futebol é bom por isto, porque se percebe ali mesmo quando se joga ou não. E quando não se joga, o público assobia. E quando o treinador perde durante vários jogos, os lenços brancos fazem o seu 13 de Maio.

A cultura do mérito é muito praticada no futebol, porque está à vista de todos, pois caso não tivesse, seria igualzinho a tudo. Mas está, e por isso há uma pressão adjacente que exige sempre a vitória, porque não há forma de escamotear os resultados, de esconder a mediocridade, porque toda gente dá a cara e fala antes e depois de qualquer jogo. Um mau jogador ou líder tem vida curta no futebol e muitas das vezes sai pelo próprio pé – o que é notável e honroso - antes que lhes digam para o fazer. Porque para além do mérito, o futebol tem também a cultura da vergonha.

E a melhor de todas: na cara.

Fernando Alvim
Publicado originalmente no Jornal i
[Fotografia de Mário Novais]

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