Friday, February 08, 2013

Mais um Balanço Vital no jornal Metro


Convidámos a jornalista Ana Sousa Dias a fazer o seu Balanço Vital. O resultado pode ser lido já a seguir.


Momentos áureos, motivos de orgulho

1
Fui ao turismo de Toledo e fiz uma pergunta. A senhora quis saber de que região de Espanha era: fala corretamente, disse ela, nunca ouvi um português falar assim. Gabei-me nos anos seguintes, orgulhei-me do treino a ler o El País e o Montalbán. Anteontem disseram-me que falo espanhol com sotaque alemão. Onde é que eu falhei?

2
Atravessámos uma ponte suspensa de madeira sobre um rio minhoto. Faltavam algumas tábuas, o rio estava muito abaixo e o lado de lá era Espanha. Apanhámos o comboio de Orense para Irún, galegos maravilhosos partilharam connosco os farnéis, e tive medo quando mostrámos os passaportes na fronteira para França. Dançámos nessa noite num estacionamento de camiões TIR.

3
O meu carro é fenomenal. Uma vez caiu-lhe uma árvore em cima, outra vez foram tijolos de uma obra. Uma carrinha deu-lhe cabo do pára-choques traseiro quando travei para uma ambulância passar. Agora entro do lado do pendura porque alguém destruiu a outra fechadura para roubar cds dos Pearl Jam e assim. E ele aguenta as compras do hipermercado, da praça e do Ikea, sobe ruas inclinadíssimas e passa sempre nas inspecções.

4
Sei fazer lampreia de ovos. Não sabes, estás a gozar. Sei, faço uma amanhã. Os amigos apareceram todos, beberam uma garrafa de Aveleda que alguém tinha trazido de Portugal. Era aguardente ou água da torneira de Bruxelas, não havia outras escolhas.

5
Estava eu a explicar ao filho mais velho que sou especialista em Legos, desde os tempos em que poupava para comprar caixinhas de peças amarelas, de telhados, de portas e janelas, quer dizer, na pré-história do Lego, antes das caixas com instruções e modelos únicos. Isto porque estava sempre a soltar-se a cauda da nave espacial dele e eu colei com uma peça das minhas. “Vês? Nós sabíamos improvisar, inventávamos coisas.” E ele, ao fim de uns minutos de silêncio: “No teu tempo os legos eram uma porcaria”.

Projectos Maravilhosos

Um dia vou viajar até ter vontade de voltar para casa e depois volto a partir até ter saudades outra vez.
Um dia vou ter a casa arrumadíssima.
Um dia vou ler os livros que estão à espera.
Um dia vou ter uma horta e um jardim.
Um dia vou ter tempo para fazer o que me apetecer.


No comments:

Post a Comment