Estava a pensar em ter filhos e casar ainda ontem de manhã e um dia depois já estou decidido a não o fazer. E o porquê é muito simples: porque só tenho uma vida e para se ter filhos é preciso duas. Ou três nem sei bem. Não sou pai, já podia ter sido é certo e andei atrapalhado, como todos, a fazer contas à vida.
Nesse período conturbado, bastava uma sms com uma mensagem a dizer “estou atrasada” e invariavelmente esquecia-me que se referia ao encontro que havíamos combinado. O tempo passou, os meus amigos começaram a casar e a procriar de forma a rejuvenescer o eleitorado. Entretanto separam-se quase todos, dizem-me que assim é melhor, que estão mais felizes, para que eu não o faça, que estou muito bem assim e que o melhor são os filhos. Mas quando o dizem noto que há um sorriso agridoce. Há um sorriso que me avisa para não me meter nisso se não tiver a absoluta certeza. E percebi isso esta semana quando enviei 4 mensagens a 4 amigos distintos convidando-os para sair e deles recebi a mesmíssima resposta: “Filhos”. Assim, uma resposta seca, monossilábica, sem grandes explicações como se nos estivessem a anunciar o fim do mundo e a encolher os ombros. E não deve andar muito longe disto.
Filhos, será a resposta que irei dar a todos, a partir de hoje, em qualquer ocasião. O cidadão Alvim não vem hoje ao trabalho? Responderei: filhos. Das finanças telefonam-me: “caríssimo, tem aqui o IRS para pagar, como quer fazer?” Do outro lado se ouvirá: filhos. A minha progenitora escreve- -me a perguntar se a visito antes do Natal e em carta escrita à mão poderá ler-se “filhos”. E um dia virá que este mesmo jornal para onde agora escrevo, me irá interrogar sobre a não chegada e absoluta ausência da minha crónica. Nesse fatídico dia, direi apenas uma palavra: filhos.
Fernando Alvim
Publicado originalmente no jornal i
[Fotografia de Henri Cartier-Bresson]
Enquanto não se tem filhos, não nos largam: "mas é para quando?", "de que estás à espera?", "anda lá, tudo se cria". Quando comunicamos que, pronto, agora já está, vêm os mesmos dizer "agora é que vais ver, não sabes no que te meteste"... E até estávamos felizes...
ReplyDeleteacho que tudo na vida tem um timing; não;
ReplyDeletetudo tem um tempo, pois sou português
e estou farto destes anglicanismos
e outros mecanismos em que nos escondemos
para parecermos imprtantes, ou melhores que os outros,
o que a meu ver apenas mostra a nossa incapacidade de afirmação.
mas isso dá para outra altura...
Sobre os filhos, usá-los é uma desculpa algo forçada.!
tudo começa na relação a dois;
eles só vieram ao mundo por vontade nossa.!
Se a relação por algum motivo não resultou desiste-se;
e acho que hoje muitas vezes desiste-se muito depressa,
sem haver esforço sério para entendimento.
Mas se temos filhos temos que vê-los como uma continuação nossa, nunca como um desvio ou um entrave,
é claro que nem tudo vai correr bem.
Mas se os colocamos em 2º plano, então estamos a tratá-los não como pessoas, crianças, filhos,
estamos a tratá-os como um objecto,
objecto que gostamos de ter e brincar quando não temos nada de melhor para fazer.
Por isso sejamos pessoas completas, saibamos assumir os nossos filhos para que eles não venham mais tarde atirar-nos à cara erros, afectos, negligências.
Porque se fizermos isso de certeza que também conseguimos tempo para fazer outras coisas e para nos realizarmos em pleno
jads - pai de uma ana rita