Thursday, December 13, 2012

Assim também eu!


Nunca percebi muito bem a lógica do apoio, e acreditem que não falo desses apoios estatais ou subsídios da União Europeia ou apoios de cadeira ou cadeiras de apoio, mas que eu nunca sei como se conseguem ou se obtêm ou se compram,  porque se soubesse, aqui vos garanto, que não faria outra coisa. Mas não sei. E lamento-me por isso. Mas o que eu sei – e isto é uma verdade universal – é que o apoio nunca nos é dado quando precisamos mais dele. E é isso que eu não percebo.

Apoiar quem já está a vencer é muito fácil – assim também eu –, agora quem está a perder não deixar de ouvir as nossas palmas, quem está a perder não ser abandonado nunca por nós, quem está a perder não ser insultado por todas as nossas frustrações, quem está a perder não tentar ser agredido pela nossa cobardia colectiva, isso é que já é para muito poucos. Fala-se tanto na economia, nos seus erros, na forma como tem sido destruidora das nossas vidas, que chego a pensar que esta às vezes tem mais coração que nós. Olhem o exemplo das acções: um cidadão comum decide comprar acções de uma qualquer empresa porque acha que estas se irão valorizar. As acções não valorizam coisíssima nenhuma e acabam até por até lhe fazer perder dinheiro. E posto isto pergunto: o que vai fazer o comprador dessas acções? Pegar em archotes e deitar fogo à empresa? Regá-la com gasolina? Com paus enormes partir todas as janelas? Não, aí já não. Aí está tudo bem, foi só azar. Nisso a tão criticada militância dos partidos – e nunca esperei um dia defender uma coisa destas – é até um bom exemplo. Haja o que houver, há pessoas que estarão sempre ali, independentemente de ganharem ou perderem, de serem governo ou oposição. Dispenso bem quem nos apoia quando estamos em cima, elogio, isso sim, quem nos apoia em situação oposta.

Posto isto, ainda hoje, vou adoptar um cão.

Fernando Alvim
Publicado originalmente no jornal i
[fotografia de Elliott_Erwitt]

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