Thursday, September 20, 2012

Salva-nos, Chuck Norris!



Acho muito bem toda e qualquer manifestação, desde a queima dos soutiens ao aumento das portagens, da defesa do direito dos animais à mobilização contra a troika ou até mesmo contra a abolição precoce do cartão dominó no Pingo Doce. Sou um doido. Agora, há 3 coisas que me preocupam imenso numa manif: o que vestir, o que dizer e que cartaz revolucionário usar. Em relação ao que vestir, não tenho a menor dúvida de que muitos foram aqueles que não compareceram na manif porque não tinham nada no armário, e muitas outras foram, não porque tivessem algo no armário mas apenas porque não tinham espelho. Há que entender que uma manif não é a Vogue Fashion's Night Out – não é não senhor –, uma manif não é para estar de sapatos altos e malinha Louis Vitton. Uma manif é ténis e camisa de flanela aos quadradinhos. Uma manif é t-shirt de trazer por casa e uns jeans quaisquer. Mas chegados lá, o que dizer? Devo confessar que, embora se tenha sempre imensas coisas para dizer, não é fácil escolher uma frase que resuma tudo isso e para se dizer com todos. Existem técnicas, várias, há cânticos e dizeres que resultam sempre, “o povo unido jamais será vencido!” é claramente a mais popular, o hit single, se quiserem, mas outras há que são igualmente enternecedoras e dão com tudo e com todos. A fórmula é simples: a primeira palavra deve ser sempre o nome da pessoa ou entidade que se quer atingir no peito - o mal, portanto - e depois é só juntar “Para a Rua” seguido de um unificador e fortíssimo “A luta continua!”. É claro que há variantes recorrendo a impropérios vários, sendo que o mais célebre segue de novo o esquema já apresentado mas desta vez personalizando-a, isto é, não deixando que a segunda frase seja sempre a mesma, optando por adaptá-la para cada situação. Para que entendam: nome da pessoa ou entidade que se quer insultar + cabrão + frase que rima com cabrão (e que normalmente é ladrão). E o resultado é uma maravilha. Finalmente a frase adoptada para a manif é, como dizer isto sem ferir susceptibilidades, fraquinha. Gosto mais desta de 21, cavaco vamos a caminho. É irónica, é contundente, tem atitude. Quanto a esta, é só uma questão de analisarmos: Que se lixe a troika, queremos as nossas vidas! Esperem lá, mas qual vida? Nós já não tínhamos vida nenhuma. E depois o plural vidas? Vidas? Nem nos dera a nós recuperar uma, quanto mais duas. Daí que seja necessário pensarmos melhor, mas palavras quentes, em cartazes mais eficientes. Por mim, elejo o melhor que vi: Salva-nos, Chuck Norris!

Fernando Alvim
Publicado originalmente no jornal i

3 comments:

  1. e já agora, outra questão para reflexão:
    Até onde pode ir a referência a marcas nos blogues? http://vidademulheraos40.blogspot.pt/2012/09/blogues-alvo-de-processo.html

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  2. quero apenas alertar o douto escriba que o cartão dominó faz parte do património da cadeia de supermercados Minipreço/dia e não do PIngo Doce... Um minor detail, um minor bummer num texto bem escrito e engraçado, como sempre, aliás

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  3. @ocondutor perdeste uma boa oportunidade para ficar calado. O Fernando, não estava errado. Google it...

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